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Variação Prosódica Dialetal do Português Falado em São Luís do Maranhão, A

5 de Junho, 2025 . Teses Brayna Conceição dos Santos Cardoso

Esta tese apresenta resultados de um estudo sociofonético (FELLONI, 2011; FOULKES, 2005) sobre a variação prosódica dialetal do português brasileiro (PB) falado em São Luís do Maranhão. Mais especificamente, o objeto de estudo centra-se na variação da entoação modal de sentenças declarativas neutras e interrogativas totais da variedade ludovicense, com base nos dados AMPER-POR. A tese prevê, além de uma análise intradialetal da variedade de São Luís, uma análise comparativa interdialetal entre os dialetos de São Luís e Belém e uma análise perceptual envolvendo as duas variedades comparadas, com a finalidade não somente de caracterizar o padrão entoacional de São Luís, mas também delinear as possíveis semelhanças e/ou diferenças quanto à relação das modalidades entoacionais e variedades dialetais analisadas. A escolha em comparar as variedades de São Luís e Belém justifica-se por essas capitais apresentarem uma identidade histórica em comum, visto que formaram um estado independente no período de colonização do Brasil, nomeado respectivamente de Estado do Maranhão, incluindo a capitania do Grão-Pará (1621), Estado do Maranhão e Grão-Pará (1654) e Estado do Grão-Pará e Maranhão (1751). Para a caracterização prosódica intradialetal da variedade ludovicense, foram selecionadas 51 sentenças do corpus AMPER-POR, produzidas em duas modalidades entoacionais (declarativa neutra e interrogativa total), de seis locutores, metade de cada sexo, todos nativos de São Luís, com idade superior a trinta anos, estratificados em nível de escolaridade (ensino fundamental, médio e superior). Foram utilizados os arquivos AMPER contendo as medidas acústicas das 3 melhores repetições de cada sentença (.TXT). Ao todo foram 1.836 dados analisados (51 sentenças x 2 modalidades x 3 melhores repetições x 6 locutores). Para análise interdialetal, os dados foram compostos por 33 sentenças do corpus simples AMPER-POR, participaram desta etapa doze locutores, seis nativos de São Luís e seis nativos de Belém, seguindo a mesma estratificação descrita anteriormente. Ao todo foram 2.376 dados analisados (33 frases x 2 modalidades x 3 melhores repetições x 6 locutores x 2 variedades). O tratamento dos dados compreendeu as seguintes etapas: i) codificação das repetições; ii) isolamento das repetições em arquivos de áudio individuais; iii) segmentação automática dos sinais de áudio no programa PRAAT; iv) extração das medidas acústicas dos segmentos vocálicos e das médias dos parâmetros físicos controlados – F0, duração e intensidade – pelo projeto AMPER; v) seleção das 3 melhores repetições; vi) normalização dos dados; vii) geração de gráficos no software R. Os estímulos tonais para a realização dos testes perceptuais foram extraídos da base de dados do corpora acústico das variedades de São Luís e Belém. Cada participante da pesquisa realizou três tipos de testes, cada teste continha 102 10 estímulos tonais, o que perfez o total de 306 tons. Para a realização do teste foi utilizado o software TP Worken (RAUBER; RATO; KLUGE; SANTOS, 2012). O teste foi aplicado a 96 juízes, sendo 48 juízes de São Luís e 48 juízes de Belém, metade expert e metade naive, metade do sexo feminino e metade do sexo masculino; nível de escolaridade baixa e alta; com idades entre 17 a 60 anos. Os testes trataram sobre a identificação de modalidades entoacionais e reconhecimento de variedades dialetais. Na interpretação dos testes foram consideradas as variáveis sexo, escolaridade,status e procedência do juiz, sexo e escolaridade do locutor, acento lexical e modalidade entoacional. Ao todo foram 29.376 dados analisados (48 juízes x 3 testes x 102 estímulos tonais x 2 variedades). O tratamento estatístico constou da aplicação dos testes de qui-quadrado, regressão logística e stepwise, a fim de comparar as performances de cada sujeito, atestando se as diferenças existentes entre osresultados foram significativas ou não para a construção do modelo estatístico. Os resultados comprovaram que, na análise acústica intradialetal, apenas a F0 atuou como fator determinante na discriminação da entoação modal, com a realização do padrão ascendente na pretônica e descendente na tônica para a realização de sentenças declarativas neutras e padrão circunflexo (MORAES, 1984) para a realização de sentenças interrogativas totais, a duração e a intensidade atuaram mais com relação ao acento lexical, contudo, não foram fatores determinantes no que concerne à entoação modal. Na análise acústica interdialetal, as variedades confrontadas – São Luís e Belém – apresentaram padrão prosódico semelhante com relação ao papel do parâmetro de F0 na caracterização das sentenças declarativas neutras – o padrão ascendente na pretônica e descendente na tônica – e assentenças interrogativas totais – o padrão circunflexo (MORAES, 1984) –, com a variedade de São Luís apresentando valores mais altos de F0 do que a variedade de Belém, especialmente na modalidade declarativa neutra. O parâmetro de duração indicou os valores mais altos nas tônicas, as modalidades declarativa neutra e interrogativa total atestaram tempo de produção semelhante, tanto na variedade de São Luís quanto na variedade de Belém, com a variedade de São Luís registrando valores maiores de duração do que a variedade de Belém na produção das duas modalidades entoacionais sob análise. O parâmetro de intensidade apontou maior concentração de energia nas tônicas, independente da modalidade entoacional, atestando similaridade entre os dados de São Luís e Belém. A análise perceptual comprovou que, no teste de identificação de modalidades entoacionais, a modalidade declarativa neutra foi melhor percebida do que a modalidade interrogativa total, tanto pelos juízes ludovicenses quanto pelos juízes belenenses; no teste de identificação de variedade dialetal com dados de São Luís, os juízes de São Luís e Belém apresentaram comportamento similar, pois a variável procedência do juiz não foi significativa para a identificação da variedade ludovicense e; no teste de 11 identificação de variedade dialetal com dados de São Luís e Belém, atestou-se similaridade quanto à atuação das variáveis analisadas na identificação de ambas as variedades, uma vez que os juízes apresentaram comportamentos idênticos na identificação das variedades ludovicense e belenense. A análise perceptual corroborou com a análise acústica, visto que as variáveis analisadas nos testes perceptuais atribuíram condições favoráveis para a distinção das modalidades entoacionais declarativa neutra e interrogativa total e atestaram semelhanças entre as variedades dialetais de São Luís e Belém.

Autor(a)

Brayna Conceição dos Santos Cardoso

Orientador(a)

Regina Célia Fernandes Cruz

Curso

Letras

Instituição

UFPA

Ano

2020