Nas últimas décadas, observamos o desenho de um novo rearranjo do mundo laboral, marcado por fenômenos que modificaram as relações de trabalho, deixando-as mais instáveis, inseguras e precárias, refletindo-se diretamente nas formas de manipulação e exploração dos/as trabalhadores/as, acarretando sofrimentos e adoecimentos mentais para os indivíduos. Diante desse contexto e partindo do aporte teórico da Psicodinâmica do Trabalho (PDT), realizei esta pesquisa com o objetivo de compreender como o trabalho pode se refletir na saúde mental dos/as profissionais Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Combate às Endemias (ACE) que atuam no município de Belém. Tal demanda partiu da minha experiência profissional e implicação com a temática, visto que atuo no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador Regional Belém (CEREST/Belém) e essa aproximação acabou favorecendo o contato com essas demandas relacionadas à saúde dos/as trabalhadores/as. Participaram deste estudo, de caráter tanto quantitativo como qualitativo, trabalhadores/as ACS e ACE que foram atendidos/as no CEREST/Belém entre os anos de 2016 a 2020 e que apresentaram alguma queixa referente ao campo da saúde mental, que tenham sido desencadeadas ou agravadas pelas suas vivências no trabalho. A pesquisa foi dividida em dois momentos: na primeira etapa, realizei uma análise documental em prontuários dos/as usuários/as deste serviço, a fim de criar um perfil dos/as trabalhadores/as da saúde e fazer um recorte dos dados referentes apenas aos/às profissionais ACS e ACE, atendendo aos critérios acima descritos. Na segunda etapa, procedi com a coleta de dados por meio de entrevistas semi-estruturadas com 5 (cinco) participantes que compuseram o perfil criado na primeira etapa e utilizei a Análise de Núcleo de Sentidos (ANS) para analisar os dados qualitativos. Vários temas foram aprofundados neste estudo com vistas a perceber os reflexos do trabalho para a saúde mental, tais como a organização do trabalho, as condições de trabalho, as relações interpessoais no trabalho, as estratégias defensivas utilizadas pelos/as trabalhadores/as, a dinâmica de reconhecimento, a cooperação, entre outros. Concluí com este estudo que as categorias estudadas apresentaram fragilidades desde a criação das profissões, que repercutem até os dias atuais. Foi observado também que o prazer no trabalho foi associado à efetividade das atividades oferecidas à população e ao reconhecimento dos/as usuários/as; já o sofrimento no trabalho foi vinculado a várias situações: às condições de trabalho precarizadas, à falta de reconhecimento pela gestão e pela chefia, bem como à dificuldade de relacionamento interpessoal com estes e entre os pares, entre outras.
Saúde Mental e Trabalho: Um Estudo Psicodinâmico do Trabalho de Agentes Comunitários/as de Saúde e Agentes de Combate às Endemias de Belém/PA
Annacarolina Boulhosa Cunha Pinheiro
Orientador(a)
Leandro Passarinho Reis Júnior
Leandro Passarinho Reis Júnior
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2022