A formação de professoras(es) nos territórios do campo, das águas e das florestas tem sido historicamente negligenciada no campo das políticas públicas. As lutas pela Educação do Campo passaram a problematizar essa realidade e a pressionar o estado pela criação de processos de formação em diálogo com as especificidades e diversidade sociocultural e territorial dos povos do campo, inclusive por uma formação docente fundamentada nos princípios da Educação do Campo e da emancipação humana. Como resultado desse movimento, no ano de 2013 foi implementado o Programa Escola da Terra em vários estados brasileiros, dentre eles no Amazonas viabilizado pelo convênio MEC/FNDE/UFAM. Esta tese analisa como tem ocorrido esses processos de formação continuada de professores(as) que atuam nos territórios das águas, das terras e das florestas da Amazônia amazonense, por meio da Ação Escola da Terra, e as relações que estabelecem com os princípios da Educação do Campo. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, cujo método foi investigação ação participativa, por meio do qual o processo formativo e investigativo ocorre concomitantemente. No caso específico deste estudo se deu por meio do puxirum – termo indígena de origem tupi, que designa às práticas coletivas do mundo do trabalho e da organização social nas comunidades amazônicas. Durante o processo formativo e investigativo, o puxirum emergiu como uma estratégia pedagógica metodológica de escuta dialógica freireana. A pesquisa foi desenvolvida no município de Manicoré (AM), localizado a 390 km de Manaus, capital do Estado do Amazonas, envolvendo professores(as) de escolas ribeirinhas que participaram, no ano de 2021, do Curso de Aperfeiçoamento em Educação do Campo: práticas pedagógicas. O curso foi desenvolvido em Pedagogia da Alternância, fundamentado na articulação teoria e prática que inter-relaciona tempos/espaços/saberes diferentes de aprendizagens e viabiliza formação, investigação e ação participativa com os sujeitos, envolvendo também as lideranças comunitárias. Os resultados deste estudo desvelam que: a) infelizmente, os processos de formação continuada de professoras(es) do campo que ocorrem no Estado do Amazonas não atendem aos princípios da Educação do Campo; b) no caso dos processos desenvolvidos pela Ação Escola da Terra, ainda que esses princípios sejam fortalecidos durante a execução do programa, não há continuidade de ações de formação permanente quer seja pelos municípios, quer seja pelas universidades, quer seja pela unidade escolar onde os(as) professores(as) atuam; c) há necessidade de que a formação dos professoras(es) seja permanente, fundamentada na articulação teoria e prática, na práxis revolucionária; d) as formas e conteúdos precisam ser outros, construídos com outras pedagogias que possibilitem o acesso aos conhecimentos historicamente constituídos pela humanidade em diálogo com os conteúdos de produção da vida e existência dos povos originários, tradicionais e camponeses da Amazônia amazonense; e) o puxirum de saberes é uma destas outras pedagogias, cuja estratégia didática e metodológica mostrou-se produtiva para autoformação e organização intencional dos educadores e educadoras do campo, das águas e das florestas. Isso porque, quando utilizado no processo formativo e educativo, o puxirum de saberes constitui-se como um contributo de resistência e existência na Amazônia amazonense porque possibilita o comprometimento de todos os envolvidos na práxis educativa: docentes, gestores, estudantes, pais, lideranças, equipe pedagógica da secretaria de educação, pesquisadoras(es) da educação do campo e todos os sujeitos histórico e sociais que vivem na comunidade onde a unidade escolar está localizada.
Puxirum de Saberes como Processo na Formação Permanente de Professoras(es) do Campo, das Águas e das Florestas na Amazônia Amazonense
Edilson da Costa Albarado
Orientador(a)
Salomão Antonio Mufarrej Hage
Curso
Educação
Instituição
UFPA
Ano
2023
