A dissertação apresentada tem como objetivo discutir sobre como tem sido o processo de gourmetização da culinária regional paraense. A escolha de Belém se deve ao seu segundo mandato como Cidade Criativa de Gastronomia pela Unesco, o que nos permite questionar sobre como a comida se torna patrimônio e como a partir disso existe uma maior contribuição para a identidade regional e o sentimento de pertencimento. O consumo de comida em Belém tem um sentido diferente, já que a gourmetização funciona como uma maneira de visibilizar uma culinária regional extremamente rica por produtos oriundos tanto da floresta amazônica, quanto do mar Atlântico. Contudo, existem desafios para a cozinha regional: a globalização, o tempo (dedicado ao trabalho) e o acesso aos produtos. Assim como problemas ambientais desencadeados pelas grandes monoculturas, consequência das grandes exportações. Entretanto, a pesquisa foi realizada durante o período da pandemia de Covid-19, o que exigiu uma adaptação metodológica importante, na qual a etnografia clássica deu lugar à etnografia de documentação e virtual. A partir do momento que a pandemia teve uma fase mais tranquila e com menos casos graves, realizei oito entrevistas complementares com chefs de cozinha e cozinheiras; além das conversas informais que mantive com os locais. Todas as interações se mantiveram no formato remoto. A gastronomia e a gourmetização têm sido associadas ou a temas fúteis e superficiais, ou que faziam parte apenas de um determinado grupo que utilizava o prazer por consumir alimentos como uma maneira de distinção. Todavia, o discurso construído em Belém, em parte pelo legado do chef Paulo Martins, é o da conservação e valorização dos ingredientes regionais. Por isso a importância dos eventos gastronômicos realizados no Estado, principalmente quando eles visam fazer uma ponte entre os chefs e produtores locais com os chefs e meios de comunicação de outras cidades do Brasil. Finalmente, a estrutura do trabalho está dividida em três partes principais. Na primeira é possível encontrar a história da alimentação na antropologia desde uma perspectiva dos clássicos até os grandes pensadores latino-americanos e paraenses, com o objetivo de ampliar e mostrar a importância do diálogo sobre a alimentação para os estudos sociais. Na segunda parte, foram expostos os casos do açaí e da mandioca como produtos tradicionais e de grande trajetória ancestral até seu ápice no consumo nacional e internacional, chegando lá a partir de discursos para grupos específicos. Finalmente, na terceira parte é possível vislumbrar um pouco mais sobre os eventos gastronômicos que ocorrem no Pará e a importância deles para a visibilidade da gastronomia local. Com isso é viável ter um panorama mais amplo sobre o processo de gourmetização da comida da Amazônia paraense tanto da perspectiva regional, como do discurso que conquistou o público nacional.
Processos de Gourmetização, Identidade Regional e Consumo na Amazônia Paraense
Diana Trujillo
Orientador(a)
Fabiano de Souza Gontijo
Curso
Antropologia
Instituição
UFPA
Ano
2022