A presente tese consiste num mapeamento do perfil geossociolinguístico do português em contato com línguas pertencentes à família Tupí-Guaraní, em áreas indígenas dos estados do Pará e Maranhão, com o propósito de trazer contribuições ao conhecimento dos comportamentos linguísticos dos falantes e da variação fonética do português em contato com cinco línguas indígenas, quais sejam: Suruí Aikewára, Asuriní do Tocantins, Tembé, Guajajára e Guaraní Mbyá. Os pressupostos teórico-metodológicos da Dialetologia e Geografia Linguística (GILLIERON, 1902; NASCENTES, 1953; ROSSI, 1963), da moderna Dialetologia e da Geossociolinguística (RAZKY, 1996; CARDOSO, 1999; AGUILERA, 2008), da Dialetologia Pluridimensional e Relacional (RADTKE; THUN, 1996), e do contato de línguas (WEINREICH, 1953; FISHMAN, 1978; THOMASON, 2001) nortearam a realização deste estudo. O aporte metodológico adotado foi inspirado nos instrumentos desenvolvidos pelo Comitê Nacional do Atlas Linguístico do Brasil – ALiB, especialmente em um de seus instrumentos de coleta de dados: o Questionário Fonético-Fonológico (QFF), que possui 159 perguntas. Esse questionário foi adaptado, incluída a solicitação da correspondência em língua indígena para cada umas das respostas obtidas em português. Além desse instrumento, foi aplicado um QFF Complementar, com 37 perguntas, que objetivou o registro de fenômenos fonéticos específicos do contato do português com essas línguas indígenas, e um Questionário Sociolinguístico de 21 questões sobre comportamentos linguísticos e comentários metalinguísticos/epilinguísticos. Foram previstos dez colaboradores por ponto de inquérito, de ambos os sexos, estratificados em três faixas etárias (1ª: 5 a 10 anos, 2ª: 18 a 37 anos e 3ª: 47 a 75 anos), os adultos foram subdivididos de forma equitativa em duas faixas de escolaridade (1ª: analfabetos ao ensino fundamental e 2ª: do ensino médio ao superior). A análise dos resultados demonstrou que o português falado nessas áreas indígenas ainda apresenta influência do substrato linguístico de origem Tupí-Guaraní, principalmente na fala de uma parcela dos colaboradores mais velhos (3ª faixa etária), enquanto que, de modo geral, a variação dos fenômenos fonéticos estudados parece compor parte de um contínuo de fala em relação às comunidades não indígenas da região (se comparados aos dados do Atlas Linguístico do Brasil – ALiB e do Atlas Linguístico Sonoro do Pará – ALiSPA). Os resultados do mapeamento sociolinguístico apontam para a difusão da língua portuguesa e para um baixo grau de competência linguística em língua indígena entre os colaboradores mais jovens (1ª e 2ª faixas etárias), apesar de haver indicações de um processo de conscientização desses colaboradores acerca da importância da manutenção das línguas indígenas próprias de suas comunidades.
Perfil Geossociolinguístico do Português em Contato com Línguas Tupí-Guaraní em Áreas Indígenas dos Estados do Pará e Maranhão
Regis José da Cunha Guedes
Orientador(a)
Abdelhak Razky
Curso
Letras
Instituição
UFPA
Ano
2017