Esta pesquisa teve como objetivos analisar a relação entre o trabalho realizado no sistema prisional e a saúde mental do agente prisional em Belém/PA, identificar o sofrimento psíquico advindo do cotidiano da atividade profissional e descrever as diversas doenças existentes no grupo dos agentes prisionais e suas correlações com as atividades do cotidiano profissional. A metodologia escolhida constitui-se em uma abordagem qualitativa, que permitiu à pesquisadora adentrar a realidade individual da pessoa e acessar o modo como ela significa a sua experiência. A investigação qualitativa foi através das entrevistas semiestruturadas com 5 servidores da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária – SEAP, ocupantes do cargo/função de agentes prisionais, sendo que realizadas de maneira remota/virtual. Também foi utilizada para coleta de dados, investigação em documentação do Ministério da Justiça, DEPEN (Departamento Nacional Penitenciário) e em Lei estadual e Federal. A pesquisa documental proporciona ao pesquisador dados relacionados à instituição, geralmente material elaborado por ela mesma, ou consultorias, em oportunidades passadas. O método de análise utilizado foi a análise de conteúdo da Bardin. A interpretação dos dados coletados foi através da transcrição das falas dos sujeitos. Após a transcrição das entrevistas, o passo seguinte foi a ordenação dos conteúdos no intuito de destacar os pontos mais importantes e mais significativos que facilitou a classificação das falas, ou seja, o discurso dos sujeitos, possibilitando ao final a categorização dos dados. Foram estabelecidas em 5 (cinco) categorias: Forma de ingresso, percepção e avaliação do trabalho prisional; Olhares sobre a conjuntura laboral e as experiências vividas; Reflexões sobre a saúde física e mental; Violência e estresse no cotidiano de trabalho e Autocuidado e estratégias defensivas. Os resultados encontrados revelam que os agentes prisionais passaram por alguns tipos de seleção antes do ingresso na função/cargo, com entrevista, análise de currículo e provas técnicas, psicológicas, e que ainda formação/capacitação/curso para ingressarem na profissão, “Para além disso, um dos motivos relevantes a se pontuar é que o interesse na vaga para a função/cargo de agentes prisionais foi devido à falta de emprego, pois estavam desempregados. Sobre a valorização e reconhecimento profissional, os agentes prisionais disseram que é desprestigiada pelo Estado e que a sociedade reconhece, o agente prisional, como a pessoa que trabalha com o “lixo da sociedade”, foi observado que há entre os familiares dos agentes prisionais uma negação do sujeito sobre este trabalho, em não falar ou não adentrar em aspectos do trabalho no meio familiar. Outro ponto de destaque nos resultados da pesquisa, é a má qualidade dos alojamentos, baixa remuneração e carga horária excessiva de trabalho. Identificou-se dificuldades nos relacionamentos entre os colegas, chefias e pessoas presas, inclusive com relatos de assédio moral, e diferenças de gênero na divisão das atividades de trabalho. Sobre as condições de saúde física e mental foi observado relato das principais patologias: hipertensão, diabetes, problema renal, colesterol e triglicerídeos alto, no âmbito mental, observou-se transtorno do pânico e ansiedade generalizada. No cotidiano de trabalho houve relato de estresse, violência e insegurança na realização do trabalho. Por fim, apesar do contexto intra e extramuros ser de muita vulnerabilidade para os agentes prisionais, as estratégias defensivas e de autocuidado são uma forma de equilíbrio, já que a religião, lazer, esporte, família e filhos são os pontos de apoio e sustentação para manter a vida em bem-estar.
Percepções de Si: Estudo sobre Saúde Mental dos Agentes Prisionais na Cidade de Belém/PA
Fernanda Nazaré da Luz Almeida
Orientador(a)
Leandro Passarinho Reis Júnior
Leandro Passarinho Reis Júnior
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2020