A presente dissertação consiste em um estudo a partir do caso da Usina Hidrelétrica Belo Monte (UHEBM), no Estado do Pará, na Amazônia brasileira. Este estudo teve como objetivo geral analisar, através de narrativas, como os Xipaya, que têm uma singularidade própria e viviam na região da UHEBM, se expressam em face aos problemas que ocorreram, localizando os sentimentos, emoções e ações que sentiram e realizaram quanto ao processo de perda de seus modos de vida. A pesquisa iniciou com uma apresentação do histórico do projeto da obra no rio Xingu, em meados dos anos 1970. Dos primeiros estudos da bacia hidrográfica do Xingu até o início da obra de Belo Monte, passaram-se aproximadamente trinta anos e, durante esse período, muitas polêmicas e disputas envolveram as populações atingidas, políticos, intelectuais, artistas, cientistas, ativistas e movimentos sociais. A partir dessa primeira abordagem ao megaprojeto, passei a dar ênfase à perspectiva das populações atingidas por Belo Monte, especificamente os povos indígenas Xipaya. Para tanto, foi necessário, primeiramente, conhecer melhor o universo das populações atingidas, compostas por populações urbanas, rurais, comunidades ribeirinhas e indígenas. Foi utilizada a pesquisa bibliográfica e documental, em que foi possível conhecer e reconhecer a diversidade dessas populações e, assim identificar algumas questões relevantes que não foram objeto de debate com o poder público e o empreendedor. É o que Boaventura de Sousa Santos (2006) chama de produções de não existência, ou invisibilidades. Assim, foi identificado como um dos problemas relevantes decorrentes da construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte a relação entre o sofrimento sentido pelas populações atingidas e o surgimento de novos modos de vida, em que interessa inserir ao estudo a História dos sentimentos, também conhecida por História das Sensibilidades, em que o que se tem é a possibilidade de abordar algo para além do materialmente palpável, algo inserido na ordem das subjetividades. Nada mais insólito que as emoções de um indivíduo ou, o que é ainda mais difícil de compreender, de uma coletividade; isso não foi percebido como uma situação merecedora de atenção por parte do órgão fiscalizador responsável pela conceção das licenças que permitiram Belo Monte ser construída, o Ibama, isto porque não foi previsto ou discutido como uma possibilidade, nem no Estudo de Impacto Ambiental (EIA), nem no seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Do ponto de vista metodológico, a pesquisa revelou sua dimensão qualitativa, pois essa perspectiva é capaz de captar as intensidades fenomênicas do real em suas múltiplas determinações presentes no cotidiano. Trivinos (1987) ajudou neste esforço, ao abordar que a pesquisa com enfoque qualitativo tem o ambiente como fonte, por excelência, dos dados e o pesquisador é um sujeito importante nesse processo. Foi realizada a pesquisa documental através da análise de depoimentos em relatórios, documentários e documentos de indígenas Xipaya diretamente afetados com a construção da UHEBM, feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos e páginas de web sites. Ademais, o presente trabalho fez também o uso de análise do tipo exploratória e buscou o maior número possível de informações, sendo que o o corpo documental foi composto por fontes manuscritas, documentais e impressas, isto é, foram utilizadas fontes historiográficas e hemerográficas, imprescindíveis para a compreensão do tema em estudo. A dissertação concluiu que houve uma contínua violação de direitos praticada durante a implantação do projeto, que é projetada na realidade por meio de diversos tipos de violência contra o meio ambiente e os povos Xipaya, restando apenas memórias singulares e a resistência das lutas e forças sociais. Neste campo de forças heterogêneas, a resistência é estruturante, pois forja o agendamento público da questão, denunciando para a sociedade o projeto energético brasileiro, que representa uma das facetas de mundialização do capital sobre os territórios, que ameaça o projeto civilizatório de humanidade.
“Os Donos do Rio Estão Sem Rio”:Oos Xipaya Versus UHE Belo Monte – Altamira/PA.
Martha Luiza Costa Vieira
Orientador(a)
Leila Mourão Miranda
Curso
História
Instituição
UFPA
Ano
2021