O trabalho analisa, a partir das percepções de egressos do ensino médio, contribuições e limitações do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME) na formação educacional de jovens do meio rural do município de Breves – Pará, perante as necessidades e expectativas dessa população jovem. A pesquisa, ancorada em uma base qualitativa, teve como lócus a vila Mainardi, comunidade pioneira na oferta do SOME no meio rural brevense. Como principal instrumento de coleta de dados utilizou-se a entrevista semiestruturada, cujos dados foram tratados à luz da análise temática de conteúdo. Os resultados oriundos desse trabalho de campo foram confrontados com o aporte suscitado nas discussões em torno dos eixos teóricos centrais da pesquisa, quais sejam: Sistema de Organização Modular de Ensino, Ensino Médio, Juventude (e, em particular, juventude do campo) e Educação do Campo. A referência epistemológica para a investigação foi buscada nos pressupostos do materialismo históricodialético, especialmente as categorias da contradição, totalidade e historicidade, por se acreditar que tais referências permitem uma análise que pode ultrapassar a mera constatação descritiva dos fatos e adentrar na trama de relações que fazem o objeto de estudo se manifestar de determinada forma, dentro das condicionalidades históricas na qual se forja sua essência. Assim, os desdobramentos do esforço investigativo levado a efeito com esse delineamento apontaram limitações centrais do SOME, dentre elas: o descumprimento do calendário escolar; a dificuldade de garantir a permanência do aluno no ensino médio; o sentimento de exclusão desencadeado por fatores relacionados, por exemplo, à fragilidade infraestrutural e à forma de organização do sistema; a inadequação do sistema à realidade do jovem do campo; a inadequação do acompanhamento pedagógico e administrativo. Tais limitações revelam que o SOME reproduz o dualismo que perpassa historicamente o ensino médio, ao transplantar fragmentariamente para o campo um modelo citadino de ensino, sem buscar contemplar as especificidades do local e do público a quem se destina, caracterizando uma ausência de identidade pedagógica própria. Por outro lado, ao mesmo tempo em que mostraram o descompasso da experiência somista em relação às necessidades formativas e expectativas da juventude campesina quanto ao ensino médio, as contradições da realidade estudada fizeram emergir elementos que apontaram para a afirmação da importante contribuição do SOME como única alternativa viável de acesso ao ensino médio para grande parcela desse público, revelando uma dimensão includente do sistema mesmo em meio à fragilidade com que é implementado, o que fica evidenciado, por exemplo, com o ingresso cada vez mais constante no ensino superior, de jovens egressos do sistema modular de ensino, abrindo a esses sujeitos novas perspectivas de formação e inserção social que, sem o SOME, dificilmente teriam condições de ser, sequer, projetadas.
No Espelho do Rio o que Reflete e o que “SOME”? O Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME) na Ótica de Jovens Egressos no Município de Breves – Pará
João Marcelino Pantoja Rodrigues
Orientador(a)
Gilmar Pereira da Silva
Curso
Educação
Instituição
UFPA
Ano
2016