O trabalho discute a saga dos Tembé Tenetehara das aldeias Jeju e Areal que se autodeterminam “de Santa Maria do Pará”, submetidos à catequese e civilização pelos Freis Capuchinhos Lombardos da Missão do Norte, em parceira com o Governo do Pará no final do século XIX. O cerco empreendido aos Tembé por meio do Programa de Civilização mascarava a prática do etnocídio pelo sequestro e enclausuramento das crianças para fins de cristianização, pelo estímulo aos casamentos interétnicos e entrega do território ancestral aos imigrantes nordestinos e europeus que atraiam para o desenvolvimento à região nordeste paraense. As relações estabelecidas foram caracterizadas pelos conflitos – abertos e velados – e pela resistência indígena, que compreendia o silenciamento proposital para continuar existindo. Depois de um século “em suspenso”, os Tembé ressurgem etnicamente como povo, se organizam social e politicamente em torno da Associação Indígena Tembé de Santa Maria do Pará (AITESAMPA) e passam a reivindicar o reconhecimento étnico, a demarcação da terra tradicional e o acesso às políticas específicas de saúde, educação e sustentabilidade. Por meio de memórias e narrativas fazem o “caminho da volta”, escrevem a própria história e contestam os documentos oficiais que produziram apagamentos étnicos. Como desafio, a superação das negativas do Estado, o preconceito e a discriminação que marcam historicamente a relação com os regionais e com as instituições, com destaque para a escola que continua produzindo apagamentos que levam à exclusão. Como nas histórias repassadas de geração a geração sobre os animais que buscam seus pais e avós, os Tembé prosseguem na saga, buscando não mais os pais ou as mães desaparecidas na disputa, mas parecerias para fortalecer a luta e requerer direitos sistematicamente negados.
“Na Educação Continua do Mesmo Jeito”: Retomando os Fios da História Tembé Tenetehara de Santa Maria do Pará
Rosani de Fatima Fernandes
Orientador(a)
Jane Felipe Beltrão
Curso
Antropologia
Instituição
UFPA
Ano
2017