A tese analisa experiências socioculturais de mulheres idosas atendidas pela política pública de assistência social em Breves, Marajó, Pará. Trata-se de uma Etnografia articulada à História Oral, centrada nas vozes de 10 idosas residentes no núcleo urbano do município, sem perder de vista interações com documentos escritos produzidos pela Secretaria Municipal de Assistência Social, como relatórios e legislações locais em consonância com as nacionais. Todas participam das unidades de atenção básica de assistência social, por meio de seus programas e projetos destinados aos idosos e às famílias. A fundamentação teórica articula-se à Antropologia Social e ao Pensamento Pós-Colonial para refletir como a experiência das sujeitas em territórios das bordas evidenciadas na sociedade local, revela-se em posições triplamente subalternizadas: por serem mulheres, idosas e pobres. Tais condições a que foram submetidas no sistema de hierarquia social dificultam o acesso pleno a direitos ligados às políticas públicas. Na contramão desses processos de dominação e subalternação frente às dificuldades enfrentadas, a experiência das mulheres idosas de Breves mostra o desenvolvimento de um certo poder de agência na luta por direitos e seu protagonismo na condução da trajetória de vida pessoal, amorosa e profissional, pois em situações limites da vida como a separação, a migração e a escolha por trabalho precisaram tomar decisões para alcançar outros horizontes. Tais agências, em muitos casos, estão atreladas às suas crenças, às formas de ver o mundo e lutar para resolver problemas e alcançar uma vida melhor. Atualmente essa agência contribui para serem mulheres mais ativas na velhice, ao participarem dos bailes semanais nas unidades de assistência social básica e, ao mesmo tempo, construírem espaços de convivências nos grupos de idosos com sentidos que ultrapassam a mera oferta de serviços da política pública. Assim, as idosas reelaboram o significado de lazer, tomando-o como um enfrentamento dos problemas vivenciados no cotidiano ou daqueles já vividos e que ainda são vivos em suas memórias. As tecituras da tese mostram, enfim, que as narrativas das mulheres idosas de Breves constituem-se em repertorio rico de informações do modo de viver, lutar e resistir desse grupo social na região. Igualmente, o tom empreendido para reconstituir trajetórias à luz das inquietações e provocações do presente, aponta os múltiplos significados do que é ser mulher idosa no Marajó em sua parte ocidental.
Mulheres Idosas Entre Bordas e Agências: Migração, Política Pública de Assistência Social e Sociabilidade (Marajó-PA)
Ana Maria Smith Santos
Orientador(a)
Agenor Sarraf Pacheco
Curso
Antropologia
Instituição
UFPA
Ano
2019