A presente dissertação trata da temática da metaficção nas obras Dias & Dias (2002), Clarice Lispector (1996), A última Quimera (1995), Amrik (1997) e, concentra-se, em maior parte, nos romances históricos Boca do Inferno (1989) e Desmundo (1996), todos de autoria de Ana Miranda. Nas duas últimas obras supracitadas, cujos enredos retomam o contexto do período colonial brasileiro, há a possibilidade de se pensar numa desconstrução histórica, pois a escritora emprega documentos e fatos da própria história para subsidiar a escrita literária. O trabalho será erguido sob o fulcro de observar como o mosaico de textos históricos permite a construção do processo metatextual de Ana Miranda em seus romances, principalmente em Boca do Inferno e Desmundo. Além disso, será desdobrada a inter-relação discursiva de um narrador que utiliza tanto recurso estético-estilístico da literatura, quanto o contexto histórico da narrativa, a fim de que se possa investigar a relação entre as características do autor Gregório de Matos Guerra e Oribela, personagens respectivos de Boca do Inferno e Desmundo, considerando o momento da colonização portuguesa em território nacional. Há de se destacar, sobretudo, nestas duas obras, o fato de o poder soberano das instituições Estado e Igreja determinarem alguns dos comportamentos das personagens. Como ponto ulterior, tratar-se-á, ainda, da construção do sujeito feminino, ressaltando, principalmente a repressão de suas ações no contexto colonial. A partir da discussão em torno da teria da metaficção historiográfica (HUTCHEON, 1991 e WHITE 1995), buscar-se-á a compreensão do processo de metaficção de Ana Miranda como uma característica que possibilita a problematização dos discursos históricos que enredam suas obras. Desse modo, será possível apontar o fato de que a metaficção surge com a finalidade de se estabelecer no texto literário uma atmosfera de confrontação e de contraponto, uma vez que nele é possível desterritorializar o sentido de verdade oriundo dos discursos oficiais, sem esquecermos de que o ponto de vista da narração, sendo ocupado por um sujeito à margem, faz surgir, embora ficcional, um horizonte interpretativo novo.
Metaficção nos Romances “Boca do Inferno” e “Desmundo”, de Ana Miranda, A
Carla Patricia da Silva Guedes
Orientador(a)
Luís Heleno Montoril del Castilo
Curso
Letras
Instituição
UFPA
Ano
2019