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Mestres da Memória: Aprendizagem e Trabalho nas Artes de Miriti (Abaetetuba-PA)

2 de Abril, 2025 . Teses Claudete do Socorro Quaresma da Silva

Este trabalho analisa experiências de mestres e mestras das artes em miriti de Abaetetuba, Pará. Este município tornou-se lócus da pesquisa, porque sua história se confunde com a emergência da produção e circulação das artes em miriti. Ali se constituiu um dos centros de produção dos brinquedos de miriti mais conhecidos da Amazônia Oriental, registrado como patrimônio cultural do Estado do Pará. Fundamentada teoricamente na História Social, articulada aos Estudos Culturais e Decoloniais e metodologicamente na Etnografia com a História Oral, a pesquisa mergulha em memórias narradas sobre aprendizagem e trabalho no processo de transformação de partes da folha e do fruto da palmeira Mauritia flexuosa, popular miritizeiro, em cestarias, bijuterias e outros objetos artísticos. Detentores de saberes de um ofício tradicional e oral na Amazônia, estes agentes reproduzem e traduzem cotidianamente relações de trabalho e aprendizagem. O exercício da ancestral produção artesanal deixa ver habilidades artísticas e lúdicas em profunda simbiose com a dinâmica cultural amazônica, sintonizada com perspectivas geohistóricas e socioculturais, pois as artes em miriti inspiram-se nas conexões do reino humano, animal, vegetal e mineral. O diálogo com os narradores permitiu apreender encontros e confrontos, vitórias e derrotas, sonhos, conquistas e decepções e modos próprios de como mestres e mestras atribuem sentidos ao saber-fazer e ao saber-viver. Desse modo, saberes artísticos são apreendidos entre gerações por meio do olhar, ouvir e fazer juntos; experiências educativas cotidianamente compartilhadas em diferentes ambientes físicos e socioculturais; diálogo intercultural revela-se como condição essencial e caminho promissor de uma educação escolar assentada na valorização e reconhecimento de todo saber e modo de viver; vínculos constituídos entre humanos e não humanos assumem dimensões das aprendizagens e práticas de trabalho entre a mata, a terra, o rios e as oficinas; experiências de ajuda mútua com trocas afetivas de respeito, fidelidade e solidariedade no círculo familiar caracterizam as interações laborais entre mestres e aprendizes, reatualizando tradições coletivas. Assim, estes agentes em seu viver e fazer cotidiano participam da construção do processo histórico local e regional, protagonizando conexões e mediações entre os imperativos de uma cosmologia tradicional familiar e a lógica capitalista mercadológica

Autor(a)

Claudete do Socorro Quaresma da Silva

Orientador(a)

Agenor Sarraf Pacheco

Curso

História

Instituição

UFPA

Ano

2021