Este estudo objetivou investigar as práticas correntes em um serviço universitário de saúde de Belém-PA, de modo a traçar algumas linhas da produção do diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Tal categoria nosológica ganhou popularidade na literatura médica especializada, implicando um crescente número de casos diagnosticados no Brasil e em outros países. Também é notável a expansão de mercados direcionados ao seu diagnóstico e tratamento, como efeito de sucessivas revisões de manuais diagnósticos, cada vez mais abrangentes, e de um aparelhamento dos serviços de saúde e de educação, aliados em sua identificação e tratamento. Propôs-se, portanto, uma análise problematizadora da produção desses supostos transtornos, tecendo-se diálogos com auxílio da literatura crítica dos processos de medicalização da vida em suas facetas normalizadora e individualizante. A construção do referido diagnóstico é investigada, nesta pesquisa, na materialidade com que ocorre em um serviço público de saúde infanto-juvenil, vinculado a um dos hospitais universitários da Universidade Federal do Pará. A partir de uma perspectiva genealógica de orientação cartográfica, buscou-se dar visibilidade às linhas de força que operam na construção do diagnóstico, utilizando-se estratégias múltiplas na busca/produção de materiais de análise, incluindo: levantamento de documentos do serviço, entre eles, prontuários dos/as usuários/as com a hipótese diagnóstica ou o diagnóstico em questão; diários de campo referentes às visitas realizadas ao serviço; bem como entrevistas coletivas junto às profissionais que participam da elaboração do diagnóstico. A análise do corpo documental produzido na pesquisa se desdobrou nas seguintes séries de práticas: “TDAH como fato científico”, “práticas e instrumentos de diagnóstico”, “aglutinações de categorias nosológicas”, “busca pela integralidade no serviço de diagnóstico”, “vigilância e tutela do desenvolvimento infantil”, “relação do TDAH com a queixa escolar”, “efeito redentor e de cidadania do laudo”, “produção de mercados para o consumo de terapias” e “resistências frente à prescrição de drogas”. As análises sugerem que o TDAH nitidamente não é uma mera categoria nosológica, estando implicado com emaranhadas linhas de controle e subjetivação da população, de modo que o diagnóstico opera a manutenção dessas linhas e a normalização do desviante, bode expiatório deste processo.
Linhas de Produção do TDAH: Uma Cartografia das Práticas de um Serviço Universitário de Saúde em Belém-PA
Bruna de Almeida Cruz
Orientadores(as)
Jacqueline Isaac M. Brigagão
Pedro Paulo Freire Piani
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2016