Em 1968, um jovem fotógrafo chamado Jorge Bodanzky se deparou com casos constantes de exploração sexual de meninas entre doze e quinze anos, que se prostituíam nas proximidades da rodovia Belém-Brasília. Nesse contexto de desigualdades sociais existentes na Amazônia, região para a qual os militares haviam prometido a entrega do PIN (Plano de Integração Nacional), o jovem fotógrafo enxergou contradições no dito ―progresso‖ e partiu para construir o projeto cinematográfico de Iracema – Uma Transa Amazônica. Um resultado criativo, não apenas de Bodanzky, mas também da direção de Orlando Senna e da produção de Wolf Gauer. Inspirado na etnoficção dos documentários de Jean Rouch e na verossimilhança do Neorrealismo Italiano, a obra apresenta um discurso sobre a Amazônia pautada nas desigualdades socioambientais causadas pelo desmatamento desenfreado devido à liberdade de exploração concedida, principalmente, às agroindústrias pelo governo militar. Devido à sua temática controversa, o filme foi censurado no Brasil em 1975. Durante seis anos, foi aclamado por críticos e festivais na Europa, enquanto no Brasil, circulava de forma semiclandestina em cineclubes. Visibilizado nas manchetes da imprensa brasileira entre notícias sobre o seu sucesso no exterior e narrativas sensacionalistas que buscavam desqualificar os realizadores do filme. Este trabalho busca compreender como Iracema – Uma Transa Amazônica estava inserido em uma conjuntura de transformações sociopolíticas na Europa, e como sua censura no Brasil representava uma reação às ideias emergentes que contradiziam as concepções conservadoras e nacionais-desenvolvimentistas do regime militar.
Iracema – Uma Transa Amazônica. Entre a Censura e a Aclamação: Experiências e Representações Sobre a Amazônia (1974-1981)
LEANDRO CALDAS DA SILVA
Orientador(a)
Antônio Maurício Dias da Costa
Curso
História
Instituição
UFPA
Ano
2021