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Feminização da AIDS e Sexualidade Feminina na Teoria Freudiana

22 de Abril, 2025 . Dissertações Bárbara Araújo Sordi

Apesar dos avanços medicamentosos, a aids ainda é um grave problema de saúde pública que afronta a ciência e a sociedade pela alta incidência de transmissão e de número de óbitos, uma doença mortífera, mas também carregada de estigmas presentes no imaginário social. Considerada inicialmente como doença exclusiva de determinados grupos de risco, a aids alastrou-se silenciosamente entre mulheres que, de maneira ilusória, acreditaram estar imunes e protegidas do HIV, o que se nomeia como feminização da epidemia e data, no Brasil, da década de 1990. Esta dissertação é parte de um projeto maior, que investigou durantes dois anos cerca de cem mulheres atendidas no mesmo contexto que este caso, onde se verificou que há indícios morosidade no reconhecimento das mulheres como vulneráveis à infecção do vírus HIV pela ciência médica, pelas políticas públicas brasileiras e a população em geral, incluindo ausência de campanhas preventivas para esta população e, pouca visibilidade de debates sobre feminização. Neste cenário constatou-se o crescente número de mulheres infectadas na região norte do país ao longo de toda a história da epidemia e o alarmante resultado em que Belém se encontra como a cidade em que se morre três vezes mais de aids que a população brasileira. Tendo como objetivo analisar o impacto da aids na sexualidade feminina estudou-se um caso de mulher vivendo com aids, internada no Hospital Universitário João de Barros Barreto, atendida em um dispositivo clínico psicanalítico, que aceitou participar da pesquisa. Para análise do caso utilizou-se o referencial teórico da psicanálise, revisão bibliográfica interdisciplinar sobre a epidemia de HIV/aids, as relações de gênero, a psicopatologia fundamental e os estudos sobre paradigmas ocidentais da sexualidade. Como resultado considerou-se que o falocentrismo pode ser uma defesa nesta cultura ocidental para feminilidade originária e o desamparo primordial comum aos humanos e constatou-se que o paradigma das diferenças sexuais, além de contribuir para uma moral médica e para a incidência da feminização da epidemia da aids, impõe um padrão de feminilidade que marca a subjetividade nesta cultura e que se contrapõe a uma nova imagem identitária ocasionada pelo HIV, a de “mulher aidética”.A análise do caso clínico apontou que o adoecimento por aids em Zumira foi traumático e que a negativa foi um recurso psíquico utilizado para manter seus ideais identificatórios. Contudo, a perda do objeto de amor e dos ideais de mulher, de esposa e de mãe, com os quais se identificava, levaram Zumira a se deparar com sua feminilidade originária, da qual tanto se defendia inconscientemente, o que contribuiu para o surgimento de sintomas melancólicos, rompimento de laços sociais e sua desistência de viver. Concluiu-se que a psicanálise foi um importante dispositivo clínico para reduzir o sofrimento psíquico da paciente, possibilitando alguma elaboração do trauma do diagnóstico e sua implicação no tratamento medicamentoso. Por fim, considerou-se que é no campo da psicopatologia fundamental construída por cada mulher, em um processo único e exclusivo de psicanálise pessoal, que é possível encontrar os sentidos possíveis do sofrimento diante do conflito psíquico ocasionado pela vida pulsional e a cultura marcada pelo falocentrismo.

Autor(a)

Bárbara Araújo Sordi

Orientador(a)

Ana Cleide Moreira

Curso

Psicologia

Instituição

UFPA

Ano

2015