Como resultado do afluxo de africanos no Grão-Pará, principalmente devido a atuação da Companhia de Comércio (1755-1778) no tráfico transatlântico, atividade comercial que
adentrou o século XIX, levada adiante pela iniciativa particular, sendo praticada mesmo em um contexto de ilegalidade, defendo que houve em Belém entre cerca de 1750 a 1850, um processo de formação e consolidação da escravidão urbana de origem africana. A demografia, a mestiçagem e os mundos do trabalho urbano foram influenciados por este sistema escravista. A demografia da população apontou que em termos percentuais, o grupo de habitantes escravizados configurou-se como quase metade da população urbana no setecentos. Adentrando o oitocentos, africanos e afrodescendentes escravizados tornaram-se a maioria dos habitantes da capital, dinâmica demográfica influenciada por fatores como migração, nascimentos e mortes. A participação de africanos no processo de mestiçagem, deu origem a uma população citadina cada vez mais negra e mestiça, classificada de acordo com os termos de cor/qualidade que demarcavam, além do fenótipo, as barreiras sociais, políticas e econômicas impostas a sujeitos libertos e cativos. Os mundos do trabalho urbano estiveram permeados pela mão de obra cativa, que concorria com trabalhadores livres e libertos no mercado de trabalho, além de direcionar os mecanismos de controle social dessa população dentro e fora do trabalho. Paralelo ao processo de formação da escravidão urbana, a busca pela liberdade sempre foi uma constante daqueles que vivam em cativeiro, e o próprio sistema escravista criava os meios de impedimento e ao mesmo tempo os de alcance da alforria, caracterizando as ações de indivíduos escravizados dentro da perspectiva da autonomia e da margem da negociação.
Escravidão de Origem Africana em Belém: Um Estudo Sobre Demografia, Mestiçagem, Trabalho e Liberdade (c. 1750 – c. 1850)
Bárbara da Fonseca Palha
Orientador(a)
José Maia Bezerra Neto
Instituição
UFPA
Ano
2019