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Emília Snethlage e Heloísa Alberto Torres: Gênero, Ciência e Turismo na Amazônia do Século XX

2 de Abril, 2025 . Teses Diana Priscila Sá Alberto

A presença das mulheres na história da ciência, em especial no mundo Ocidental, confunde-se com a própria constituição dessa área do saber. Embora, por muito tempo, elas ficaram nas sombras da atuação masculina. A ciência histórica, desde seu nascimento, demarcou o “homem” como o personagem central das narrativas e, mesmo que alguns estudiosos assinalassem que a mulher estava inclusa nesse ser histórico, o campo disciplinar da História as afastou do palco de formação sociocultural da humanidade. As viagens científicas, a partir do século XIX, mostraram-se caminho rico para problematizar essa visão e sentidos de seus silêncios, permitindo conexões interpretativas entre ciência, gênero e turismo. A história da participação feminina na história das ciências na Amazônia no século XX, focalizando atuação e legado de duas mulheres cientistas, uma alemã e uma brasileira, Emília Snethlage (1868-1929), do Museu Paraense Emílio Goeldi, e Heloísa Alberto Torres (1895-1977), do Museu Nacional do Rio de Janeiro, é a temática central desta tese. Ao vivenciarem experiências em regiões do Brasil, especialmente na Amazônia, elas utilizaram táticas para construir um caminho importante em suas áreas de atuação nas ciências naturais (ornitologia) e humanas (antropologia). As expedições por elas realizadas deixaram pistas importantes para a investigação da história do turismo na região, por apresentar elementos que compõem o fenômeno turístico moderno: hospedagem, alimentação e transporte. A partir dessa contextualização, o objetivo deste trabalho foi investigar, à luz dos estudos da história das ciências, do gênero e do turismo, a participação feminina desempenhada, em particular, pelas cientistas supracitadas, na construção do conhecimento científico na Amazônia no começo de século XX, adentrando suas trajetórias profissionais, estratégias e seus respectivos universos. Com relação à problemática, questionou-se qual a importância da atuação das mulheres na história das ciências no Brasil e como se deu a participação específica delas na Amazônia. A pesquisa fundamentou-se em Edward P. Thompson: História Social e suas reflexões sobre a experiência e as táticas no cotidiano; Carlo Ginzburg: a Micro-História, ao adentrar os indícios de outros caminhos feitos por elas; Michelle Perrot, Londa Schiebinger e Anne McClintock, ao referendarem o papel da mulher no campo científico, ajudando a inquirir formas de colonialidade vivenciadas no cotidiano de vida e trabalho das cientistas. No que tange aos estudos do turismo, dialogou-se com Paulo de Assunção, Alexandre Panosso Netto e Helena Doris A. B. Quaresma, que tratam acerca da reflexão do fenômeno turístico e suas aberturas na história e pesquisa na Amazônia. O percurso metodológico rastreou pistas da atuação dessas mulheres da ciência no Museu Paraense Emílio Goeldi, Arquivo Guilherme de La Penha. Buscou-se, também, arquivos sobre Emília Snethlage em meio virtual na Biblioteca Nacional Digital e sobre Heloísa Alberto Torres no Museu de Astronomia e Ciências Afins. A pesquisa documental encetou em 2018 e foi até meados de 2022, sobretudo, por ambiente virtual, em virtude da pandemia de Covid-19. Para responder à problemática da tese, foram mapeadas e analisadas evidências em jornais, artigos produzidos por essas cientistas, cartas pessoais, institucionais e romances, que visibilizaram vivências e práticas delas em suas instituições e no cotidiano de pesquisas na Amazônia. Com base nesses achados, a tese demonstra que ambastiveram papel fundamental na construção da ciência na Amazônia, por suas ações e “sensibilidades de mundo”, numa época de plena hegemonia do domínio masculino no campo científico. Elas construíram suas trajetórias na ornitologia e na antropologia de forma que suas publicações e realizações científicas espraiaram-se para além de suas instituições, marcando espaço na história das ciências no Brasil e no exterior. Outrossim, as viagens revelaram novos rumos para se compreender o fenômeno turístico na região amazônica, posto que foram utilizados elementos constituintes da prática na atividade. Contribuindo, desse modo, para pensar a emergência de uma nova epistemologia sobre viagens turísticas.

Autor(a)

Diana Priscila Sá Alberto

Orientador(a)

Agenor Sarraf Pacheco

Curso

História

Instituição

UFPA

Ano

2022