A presente dissertação trata de uma articulação teórica entre o tema do poder e da melancolia. Tal articulação é proposta em duas perspectivas: a primeira se situa ao nível da interpretação freudiana da cultura e toma como eixofundamental a discussão sobre o parricídio, sobretudo nos chamados textos “sociológicos” de Freud; a segunda se circunscreve no âmbito da clínica e toma a noção de complexo de Édipo como operador conceitual desta articulação. Para tal pretendemos analisar a construção da moderna noção de poder e como, em seu processo de construção, ela se expressa necessariamente enquanto “coisa exterior” que ocasionalmente mantém correlação com um processo de subjetivação; posteriormente, nos deteremos nas reflexões de Arendt e Foucault que, a nosso ver, se afastam dessa concepção tradicional sobre o poder na medida em que apontam para uma maior fluidez desse conceito problematizando, assim, a relação de imanência entre poder e Estado. Em seguida, desenvolveremos brevemente a questão do diálogo entre poder e psicanálise na tentativa de circunscrever melhor uma dimensão ainda pouco estudada – o poder como uma categoria psíquica. Oque nos propomos fazer é analisar, na medida do possível, como se dá o processo de instauração da lei do pai que funda a civilização e relacioná-la com a questão do poder. Para tal, nos valeremos dos textos em que Freud analisa de um ponto de vista metapsicológico esta confluência entre a lei primordial, o pacto civilizatório decorrente desta lei e o poder, destacando sempre a figura do pai como responsável pela consistência e legitimidade deste “acordo cultural”. Por meio da análise do conceito de complexo de Édipo nos textos de Freud, procurou-se fundamentar que essa dimensão conflitiva que se expressa contra o poder do pai no interior do complexo pode ser apreendida como fundamentalmente humana justamente porque se coloca no cerne da constituição do ego; então, nesse sentido, a possibilidade desta revolta se relaciona com as duas perspectivas de análise que nos propusemos: o assassinato do pai da horda primitiva e do pai da pré-história pessoal. Desse modo,é devido à existência de um pai morto tanto na gênese da civilização quanto na origem do indivíduo singular que podemos falar de uma noção de poder na psicanálise já que é a rememoração deste poder outrora vencido que expressa-se na forma do mal-estar. Por fim,tentou-se mostrar como o modo de constituição melancólico é, sobremaneira, a expressão mais radical dessa dimensão essencialmente conflitiva do humano: através das auto-recriminações e da perda do sentimento-de-si são reveladas, de maneira inversa, as aporias do poder na melancolia.
Édipo e o Parricídio na Constituição da Subjetividade: Um Estudo Psicanalítico sobre o Poder e a Melancolia, O
Ronildo Deividy Costa da Silva
Orientador(a)
Ana Cleide Moreira
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2012