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“Dias de Luta, Dias de Glória”: Trabalhadoras/es de Saúde em HIV/AIDS sob o Olhar da Psicodinâmica do Trabalho, em um Hospital de Referência, no Pará

25 de Abril, 2025 . Dissertações Michele Torres dos Santos de Melo

O surgimento da epidemia de HIV/Aids, no Brasil, foi marcado por grande mobilização social nos grandes centros urbanos do país, desde o primeiro caso da doença em 1982. Os profissionais da saúde precisaram concentrar esforços para seu enfrentamento. Afetados pelo drama dos pacientes, recebiam apoio psicológico vindo do Hospital Emílio Ribas, primeiro hospital com um Centro de AIDS, tornando-se referência na área de infectologia, até os dias atuais (MENDONÇA; ALVES; CAMPOS, 2010). Assim, esta pesquisa teve por objetivos analisar a organização do trabalho de trabalhadoras/es de saúde na atenção a pacientes de HIV/Aids, em um hospital de referência, no Pará; identificar as possíveis vivências de prazer e sofrimento psíquico neste trabalho; investigar os mecanismos de defesa individuais e estratégias defensivas coletivas adotadas, no enfrentamento à realidade existente. A metodologia adotada foi de cunho exploratório e pesquisa qualitativa, utilizando-se o referencial teórico da Psicodinâmica do Trabalho. Os instrumentos de análise foram de entrevista semiestruturada, com a técnica de entrevistas individuais. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos, vinculado ao Programa de Pós-graduação em Psicologia, da Universidade Federal do Pará, assim como pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário João de Barros Barreto, atendendo à Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde – Ministério da Saúde. Para a análise dos dados, utilizou-se a técnica de Análise dos Núcleos de Sentido (ANS), adaptada da técnica de conteúdo categorial desenvolvida por Bardin (1977). A análise das informações e relatos permitem aferir que a organização do trabalho caracteriza-se por aspectos que envolvem diferentes vínculos trabalho, por uma jornada de trabalho intensa e exaustiva, mediante às demandas diárias na atenção com pacientes de HIV/Aids que chegam no hospital muito debilitados. As condições de trabalho apresentam-se deficitárias quanto à estrutura física, iluminação, temperatura, limpeza, estado dos equipamentos e escassez de recursos, como medicamentos. Para enfrentamento à realidade, as/os trabalhadores utilizam-se do mecanismo individual de defesa de negação e estratégicas coletivas de defesa de racionalização e de negação, com modos de pensar, agir e sentir compensatórios. O prazer se dá através do sentido dado à contribuição social, na recuperação e gratidão dos pacientes e familiares, no constante aprendizado e no apoio entre a equipe de trabalho. O reconhecimento é evidenciado pelos pares, quando elogiam, ajudam e valorizam o trabalho uns dos outros. Não foi mencionada a existência de grupos de discussão coletiva, onde as/os trabalhadoras/es possam falar de seus sentimentos, angústias e anseios no fazer laboral. Esta pesquisa possibilita a ampliação de saberes e reflexões atuais em saúde pública, no que concerne à saúde mental das/os trabalhadoras/es na atenção em HIV/Aids, assim como permite pensar ações voltadas à promoção de melhorias nas redes de serviços voltadas às PVHA, no país e, mais especificamente, no estado do Pará.

Autor(a)

Michele Torres dos Santos de Melo

Orientador(a)

Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

Curso

Psicologia

Instituição

UFPA

Ano

2020