Esta pesquisa visou cartografar os processos e os modos de subjetivação de um trabalhador docente da rede pública estadual da educação básica do município de Belém-PA, a partir das práticas de gestão precarizantes presentes no contexto neoliberal que aí atuam. Dessa forma, é importante pensar algumas questões, quais sejam: Como o Capitalismo Mundial Integrado (CMI), sob a insígnia da globalização e do neoliberalismo, opera na “captura”, na “negação” e/ou na “despotencialização” dos processos de subjetivação dos docentes? Como se dão as relações de saber-poder no âmbito da escola? E como se operam as estratégias de resistência utilizadas pelos professores, no sentido de tentar criar novos modos de existências ante às forças que os subjetivam? Dessa forma, esta tese é relevante porque permite problematizar as nuances dos processos de subjetivação de docentes, visando contribuir e intervir no cuidado integral quanto à saúde e ao bem-estar de professores e professoras. A partir dessa premissa, esta pesquisa lança luz sobre os paradoxos e as controvérsias de um ambiente permeado por lutas e resistências, que questionam como o trabalho precarizado vem se consumando como forma hegemônica na vida em sociedade. Com efeito, optamos por analisar os campos de tensão permanentes entre prazer e sofrimento no trabalho, sem perder o foco dos processos capitalísticos que tentam precarizar a vida, a liberdade e a resistência como trabalhador da educação pública, na micro-história de caráter autobiográfico. Esta pesquisa está ancorada nas pistas cartográficas e arqueogenealógicas presentes em conversações com Gilles Deleuze, Félix Guattari e Michel Foucault, a partri das quais se buscou acompanhar histórica e criticamente os agenciamentos políticos, os atravessamentos dos discursos institucionais, os processos diagramáticos e se analisar os paradoxos, bem como seguir as redes de controvérsias de modo documental e etnográfico, lançando mão, inclusive, dos hipomnémata, ou seja, a técnica de escrita de si como arte de viver. Desse modo, defendemos a tese de que a precarização imposta pelo CMI é um mecanismo capaz de “sequestrar” a subjetividade do trabalhador docente, de forma que este se molde e se submeta às forças constituídas que dominam os modos de organização do trabalho, em que há utilização de tecnologias, formas de controle e jogos de poder, que geram a intensificação desta precarização, o assujeitamento e a modelização do processo de produção de subjetividade, porém, há enfrentamentos e resistências na docência face às tentativas de precarização realizadas. Ao final desta pesquisa, pretendeu-se responder aos seguintes questionamentos: É possível produzir novas tecnologias, técnicas e práticas de “cuidado de si” no mundo atual? É possível produzir uma vida livre em termos de agonística? Como resultado, é possível afirmar que há uma luta permanente entre a vida como obra de arte, uma vida digna, potente, criativa, em oposição àquela que busca o rebaixamento da vida, a homogeneização e à autofagia de todas as formas de existência, o aprisionamento do ser, o assujeitamento a um modelo de viver empreendedor e assujeitado; percebe-se, todavia, movimentos de resistências às inúmeras realidades de dor e sofrimentoexperimentadas no processo de precarização do trabalho docente na rede pública de ensino, na atualidade. Desse modo, conclui-se assinalando que é possível reinventar-se.
Cuidado de Si e dos Outros no Processo de Subjetivação de um Docente do Ensino Público em Belém-Pa: Um Ensaio Sobre a Vida Como Obra de Arte, O
Helder Corrêa Luz
Orientador(a)
Flávia Cristina Silveira Lemos
Flávia Cristina Silveira Lemos
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2023