As trajetórias de vida de pessoas em situação de rua são constituídas por singularidades que deixam seus registros nos corpos daqueles que fazem do espaço público lugar de trânsito e permanência. As violações de direitos, o distanciamento da esfera do trabalho formal, a perda de vínculos familiares e de amizade são algumas das forças que atravessam tais sujeitos, produzindo modos de existência que se erguem pela via da desfiliação social. No intuito de acompanhar as linhas que tecem essas vidas marginais, este estudo de psicologia social, traçado por meio da genealogia foucaultiana e da cartografia proposta por Deleuze e Guattari, buscou se aproximar dos testemunhos daqueles que são subjetivados e objetivados pela lógica da marginalização, abrigando em seus corpos as marcas da desigualdade social e da resistência frente à gestão da vida que, muitas vezes, opera pela lógica racista. A partir das entrevistas, realizadas com 10 pessoas em situação de rua de dois bairros de Belém (Cidade Velha e Campina), do diário de campo e das fontes secundárias (teses, dissertações, artigos, livros, revistas etc.), foi possível problematizar as relações de saber-poder, os engendramentos éticos, estéticos e políticos que compõem o existir na esfera pública, o que aparece em debate em três séries discursivas: 1) perdas e seus efeitos; 2) sociabilidades e rupturas e 3) corpo e cidade em heterotopias. A fragilização do lugar de cidadania desse segmento, bem como as suas estratégias adaptativas e a criação de passagens para o protagonismo armam, nesse sentido, o arquivo público da rua, nos quais estão os corpos-documentos dos que sobrevivem para além do estigma infâmia.
Corpos em Situação de Rua em Belém do Pará: Os Testemunhos da Desfiliação Social
Daiane Gasparetto da Silva
Orientador(a)
Dolores Cristina Gomes Galindo
Flávia Cristina Silveira Lemos
Dolores Cristina Gomes Galindo
Flávia Cristina Silveira Lemos
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2015