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Corda Bamba do Trabalhar das Equipes de Saúde da Família de Belém, A

14 de Abril, 2025 . Teses Eric Campos Alvarenga

Esta tese analisou a organização e as condições do trabalho de equipes de saúde da família da cidade de Belém do Pará e verificou o desenvolvimento de sofrimento psíquico de seus profissionais. Por conseguinte, investigou as estratégias que as equipes utilizaram para trabalhar diante das adversidades e lidar com o sofrimento. Esta pesquisa utilizou metodologia qualitativa e quantitativa, alicerçada no campo da Psicologia Organizacional e do Trabalho, mais especificamente da Saúde Mental e Trabalho. Empregou a Psicodinâmica do Trabalho como aporte teórico principal. Foram feitas entrevistas coletivas com quatro equipes de saúde da família de Belém, realizando dois encontros com cada uma: um para escuta e outro para devolutiva. A fim de verificar outras informações referentes ao trabalho destas equipes, foi feita uma análise estatística de dados do segundo ciclo do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ). Nesta, 776 equipes do estado do Pará e de 69 equipes de Belém foram analisadas. De maneira geral, foi possível verificar que as condições e a organização do trabalho demonstraram ter ampla relação com as vivências de sofrimento e de prazer destes profissionais. As condições de trabalho foram o ponto mais ressaltado pelos trabalhadores e trabalhadoras como o de maior penúria. Em todas as pesquisas analisadas no levantamento de literatura realizado, a falta de infraestrutura adequada foi um problema. Averiguou-se um número insuficiente de profissionais para dar conta da elevada demanda por atendimentos advindos da baixa cobertura populacional de equipes de saúde na família da cidade. Observou-se um padrão de contratação temporária que flexibiliza o trabalho, produzindo insegurança e docilização de trabalhadores e trabalhadoras. O trabalho é organizado de modo que as enfermeiras assumem a coordenação das equipes na maioria das vezes, implicando numa sobrecarga de trabalho a elas. As vivências de prazer apareceram a partir do cuidado com a população e do relacionamento entre os colegas de equipe. Ao mesmo tempo, a relação com os usuários e com os pares foi marcada por sofrimentos que vinham da dificuldade de compreensão da população sobre o modelo da Estratégia de Saúde da Família e das limitações das condições de trabalho, assim como os conflitos entre a própria equipe em negociações diárias de mudanças na organização do trabalho. A relação com a gestão municipal trouxe muitas vivências de sofrimento e foi marcada por intensa vigilância, cobranças e ameaças. Como estratégias principais contra o sofrer, as equipes buscavam orientar os usuários sobre o seu trabalho, procuravam conforto na religião, tentavam seguir trabalhando sem pensar no que está acontecendo e evitavam se envolver emocionalmente de maneira exacerbada com usuários e membros da equipe. São necessários mais investimentos na melhoria das condições de trabalho, em contratos de trabalho melhor remunerados e que garantam estabilidade, no aumento da cobertura de equipes de saúde da família e na ampliação do diálogo entre gestão municipal e equipes.

Autor(a)

Eric Campos Alvarenga

Orientador(a)

Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

Curso

Psicologia

Instituição

UFPA

Ano

2014