Esta tese de doutorado discute alguns modos que idosos e jovens se valem para articular o uso, as comunicações e as relações sociais nos meios virtuais no contexto da contemporaneidade, em que a internet e as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) integram os processos de subjetivação coletivos e se fazem imperativos para estar e manter-se visíveis, cotidianamente, no mundo da vida. Considera-se que tal cenário afeta as formas das relações sociais, entre os sujeitos focalizados em uma pesquisa de abordagem qualitativa, de base fenomenológica hermenêutica, implicando resultar em conflitos interpessoais. A questão de estudo foi: De que modo a concepção, o entendimento e o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação por idosos e jovens digitais fragilizam ou fortalecem os vínculos? E a tese proposta foi que: os conflitos geracionais por uso de tecnologia estão associados a dois fatores: (1) ao entendimento que cada geração faz de tecnologia e (2) ao fato de que idosos digitais tentam dominar a tecnologia, enquanto os jovens digitais se acoplam a elas geracionalmente. O objetivo principal consistiu em identificar e refletir a pertinência da proposição de tese, bem como verificar o impacto do uso da internet e dispositivos digitais no estreitamento ou no distanciamento do vínculo entre idosos e jovens digitais. Metodologicamente, realizou-se grupos focais e entrevistas dirigidas com 6 idosos e 6 jovens com vínculo consanguíneo de avós e netos. Destaca-se que os dados analisados para o grupo de idosos evidenciaram que: (1) existe uma dificuldade na compreensão da funcionalidade dos aplicativos e da real necessidade de uso; (2) somente 1 dos 6 idosos não teve o contato inicial com as TICs por meio de jovens – sendo eles netos e/ou familiares; (3) o interesse dos idosos pelas TICs parece ser com o caráter de estender ou estabelecer novas relações sociais, pois entendem que aprender a utilizá-las representa manter-se inseridos socialmente; 4) as dificuldades frente ao uso das ferramentas tecnológicas estão relacionadas à complexidade e rapidez com que esses recursos evoluem. Por sua vez, os jovens entrevistados revelaram que: (1) o contexto digital não tem uma única função, nem uma única valorização, mas uma multiplicidade e flexibilidade de usos; (2) muitos deles ensinaram os avós a lidar com as tecnologias e sentem prazer em estarem se relacionando virtualmente; (3) a interação e o convívio por meios dos serviços digitais proporcionaram a reflexão e, possivelmente, retificação da imagem distorcida que podem ter dos idosos. Conclui-se que, ao se perceber o processo fenomenológico da relação humano-tecnologia, é desvelada uma hermenêutica do enraizamento tecnológico-sócio-cultural dos colaboradores da pesquisa; observa-se também uma relação de mútua benevolência em que os jovens auxiliam ou até iniciam os adultos na lida com o digital; ressalta-se que para os idosos estarem próximos aos mais jovens significa contato com o moderno, aprender a linguagem tecnológica. Quanto ao conflito, nota-se que a relação de troca entre jovens e idosos, por meio da utilização de artefatos e serviços tecnológicos, empodera os jovens que conduzem tais trocas de acordo com seus micros interesses, por isso, ainda que haja cooperação, o conflito se estabelece devido ao aumento das demandas dos idosos sobre conhecimento tecnológico e nem sempre os jovens possuem paciência para ensinar. Por fim, espera-se com a tese contribuir para que a sociedade ampla, a universidade e o Estado lancem políticas em saúde mental, bem como capacitação digital para o enfrentamento das constantes exigências atuais de performance que os idosos digitais sofrem para adquirir competências tecnológicas.
Conflito Geracional por Uso de Tecnologia: Uma Fenomenologia das Relações Entre Idosos e Jovens Digitais em Belém do Pará
Wanderson Alexandre da Silva Quinto
Orientador(a)
Adelma Do Socorro Gonçalves Pimente
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2022