Skip to main content

Com a Voz, os Usuários: Discursos sobre as Práticas de Cuidado em Saúde Mental em um CAPS do Estado do Pará

17 de Abril, 2025 . Dissertações Márcia Roberta Maria de Oliveira Rodrigues

Nesta dissertação analisei como as práticas de cuidado em saúde mental são percebidas pelos usuários de um CAPS do Estado do Pará, procurando conhecer seus itinerários terapêuticos. Além disso, busquei verificar se o discurso dos usuários é incorporado no processo de organização das práticas no cotidiano dos serviços do CAPS estudado. Nesse sentido, procurei escutar a voz dos usuários, por entender que todo o debate em relação à política e às práticas de cuidado em saúde mental deve levar em consideração o protagonismo do usuário como centro de suas ações, em consonância com os princípios da Reforma Psiquiátrica. O caminho metodológico escolhido está inserido no campo das abordagens qualitativas, de acordo com as proposições realizadas por Minayo (2007) e Turato (2005) no campo da saúde. A pesquisa de campo foi realiza em um CAPS sob gestão da SESPA. Participaram deste estudo catorze usuários do CAPS, que estavam oficialmente cadastrados no mínimo há mais de três meses e utilizando regularmente os serviços. Na coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos: observação participante, pesquisa documental e bibliográfica, além de entrevistas semiestruturadas que foram gravadas e transcritas. As entrevistas foram analisadas de acordo com quatro eixos temáticos estabelecidos, quais sejam: Processo Saúde e Doença, Itinerário Terapêutico, Práticas de Cuidado em Saúde Mental e Usuário e Autonomia. Com base nos repertórios linguísticos dos usuários, é possível afirmar que o sentido dado ao processo saúde e doença foi explicitado por meio dos sintomas orgânicos, dos sintomas psíquicos, e por meio das crises, vivenciados no processo de adoecimento. A forma de sentir e de lidar com esse sofrimento, fez com que cada sujeito procurasse os recursos que estivessem ao seu alcance, para amenizar os efeitos relacionados ao processo de adoecimento, caracterizando o que foi chamado de Itinerário Terapêutico. Quanto às práticas de cuidado produzidas no cotidiano dos serviços, foram avaliados pelos usuários aspectos relacionados ao acolhimento, ao diagnóstico, ao tratamento, ao atendimento dos profissionais de forma geral e em relação às atividades desenvolvidas no cotidiano do CAPS. De fato, ficou claro nos discursos que o CAPS estudado foi o local em que se sentiram mais satisfeitos no que se refere ao cuidado, principalmente quando comparado ao tratamento recebido em outros serviços de saúde da rede pública e privada. Entretanto, ainda é observada no âmbito desses serviços, a coexistência de práticas de cuidado que corroboram para os ideais da Reforma Psiquiátrica e outras que ainda reproduzem a lógica manicomial. Na tentativa de identificar mecanismos e estratégias utilizadas no âmbito do CAPS que desse “voz” aos seus usuários, pude observar que já há um movimento no sentido de dar maior autonomia a esse usuário, principalmente quando o CAPS possibilita a constituição de espaços participativos, fazendo com que o usuário possa cada vez mais, ser o protagonista, capaz de criar caminhos para si e, com isso, alcançar os propósitos da Reforma Psiquiátrica. Entretanto, o conflito de forças presentes no interior dos serviços acabam por restringir a atuação desses espaços no sentido de desenvolver movimentos de resistência e criação.

Autor(a)

Márcia Roberta Maria de Oliveira Rodrigues

Orientador(a)

Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

Curso

Psicologia

Instituição

UFPA

Ano

2013