As forças constituintes dos espaços urbanos, quando analisadas em termos de agenciamento e multiplicidade, possibilitam vias de entendimento sobre as práticas sociais. Por tal razão, problematizar a construção nas cidades de redes de determinados grupos minoritários, que visam à garantia de direitos e afirmação de lugares de cidadania, demanda um olhar sobre diversos aspectos relacionados à produção de territórios existenciais. Considerando estas premissas, este estudo questiona de que maneira o povo em situação de rua tem construído, na cidade de Belém, na região norte do Brasil, práticas de resistência que podem fomentar a articulação de redes políticas e afetivas. Visando o desenvolvimento desta temática no campo da psicologia social, a pesquisa buscou cartografar (com base na noção de cartografia em Deleuze e Guattari) práticas de resistência do povo em situação de rua, bem como a emergência de redes político-afetivas deste grupo na região norte do Brasil entre os anos 2005 e 2018, a fim de traçar o diagrama de forças em movimento no cenário atual que contribuem para articulação deste segmento em suas lutas. Nesse sentido, a organização documental se deu a partir de: 1) narrativas de pessoas com trajetórias de rua (6 entrevistas individuais e 2 rodas de conversa); 2) narrativas de servidores públicos que atendem pessoas com trajetória de rua (7 entrevistas individuais); 3) produções de pessoas com trajetória de rua (jornais, desenhos, textos etc.); 4) narrativas pessoais sobre o campo estudado. No intuito de ancorar a análise, a genealogia e arqueologia foucaultiana foram utilizadas como operadores metodológicos, a fim de possibilitar uma perspectiva crítica e histórica sobre as práticas sociais que estão relacionadas à produção de subjetividade. A partir desses documentos, nota- se a presença de inúmeros agenciamentos político-afetivos relacionados às resistências de pessoas em situação de rua, as quais trazem a dimensão dos direitos como importante campo de construção de suas lutas. O cotidiano na cidade, permeado por misérias e violências, arma o resistir na perspectiva da sobrevivência, tendo a constituição de movimentos sociais destaque nos enfrentamentos atuais, os quais também operam pela reinvenção de formas de viver. Os atravessamentos de discursos institucionais, marcados pelo que se produz a partir dos serviços ofertados à população em situação de rua, por meio de políticas públicas, também são elementos de análise dos processos de acolhimento, politização e criação junto a este segmento. Por fim, as alianças com coletivos diversos da sociedade civil, tais como grupos religiosos, artísticos e acadêmicos, despontam como outras linhas de produção das lutas do presente.
Cartografias Político-Afetivas no Presente: Práticas de Resistência do povo em Situação de Rua em Belém
Daiane Gasparetto da Silva
Orientador(a)
Dolores Cristina Gomes Galindo
Flávia Cristina Silveira Lemos
Dolores Cristina Gomes Galindo
Flávia Cristina Silveira Lemos
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2015