Este trabalho investiga a função da avaliação nas atividades relativas ao ensino e à aprendizagem da escrita em obras didáticas de língua portuguesa, uma vez que os documentos de referência para a educação em línguas no Brasil indicam que os recursos de avaliação nas obras devem estar alinhados à perspectiva da avaliação formativa cognitivista, cuja função é a regulação da aprendizagem. Para investigarmos isso, discutimos algumas concepções relativas aos eixos deste trabalho: avaliação, escrita e obra didática. No eixo “avaliação”, discutimos os conceitos de regulação da aprendizagem (ALLAL, 1984/1988, HADJI, 2011, PERRENOUD, 1999) e de autorregulação da aprendizagem (HADJI, 2011, PANADERO; ALONSO-TAPIA, 2014a, ZIMMERMAN; MOYLAN, 2009), conceitos basilares da avaliação formativa cognitivista. No eixo “escrita”, debatemos as modelos teóricos dessa atividade em contexto escolar (CHABANNE; BUCHETON, 2002), as concepções de avaliação da escrita nos documentos de referência (BRASIL, 1998a, 2013, 2016), além de comentarmos o modelo de escrita sugerido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998a), que apresenta semelhanças com o modelo de Hayes e Flower (1980). No eixo “obra didática”, tratamos dos conceitos de “obra didática” (BRASIL, 2015, 2015a), de “livro didático” (BATISTA, 2003), e situamos a obra didática como dispositivo didático para a regulação da escrita (WEISSER, 2010); além disso, discutimos as suas funções essenciais (CHOPPIN, 2004), dando especial atenção às funções referencial e instrumental, as quais são alinhadas, respectivamente, à perspectiva de transposição didática dos conteúdos (CHEVALLARD, 1991) e à perspectiva de mediação e de auxílio à intervenção (HALTÉ, 1992, CUNHA; CUNHA, 2011). Com base nessa reflexão examinamos três obras didáticas: “Português – linguagens”, “Projeto Teláres – Português” e “Para viver juntos – Português”; por meio de uma análise com categorias de conteúdo, com base nas variáveis de avaliação (HADJI, 1994), focalizando as propostas de avaliação dos manuais do professor e os projetos didático-avaliativos dos livros do estudante das obras que constituem o corpus. E para isso, utilizamos o método interpretativista dos dados, conforme as orientações de Moita Lopes (1994). Os resultados mostraram que duas das obras didáticas mais adquiridas do PNLD apresentam uma proposta de avaliação da aprendizagem alinhada à perspectiva da avaliação formativa neobehaviorista (BLOOM et al., [1971]1983), cuja função é a correção do ensino e não a regulação da aprendizagem em curso, e uma das obras sequer apresentou proposta de avaliação. Além disso, mostraram que os projetos didático-avaliativos dos livros do estudante seguem a mesma perspectiva, com exceção de uma obra, que apresentou um projeto didático-avaliativo no prisma da regulação da aprendizagem em curso. Contudo, essa obra foi a terceira mais adquirida, o que mostra ainda que obras didáticas de língua portuguesa mais adquiridas no PNLD não apresentam uma função da avaliação na perspectiva da regulação. Esses dados nos revelam que, apesar de passados mais de vinte anos desde a publicação do primeiro volume dos PCN, as obras didáticas de língua portuguesa que mais circulam no país ainda apresentam concepções de avaliação da aprendizagem e da aprendizagem da escrita numa perspectiva não condizente com as pesquisas mais atuais em avaliação.
Avaliação em Obras Didáticas de Língua Portuguesa: Regulação no Ensino e na Aprendizagem da Escrita?
Emidio Junior Santos Bahia
Orientador(a)
Myriam Crestian Chaves da Cunha
Curso
Letras
Instituição
UFPA
Ano
2019