Skip to main content

“Até Onde o Corpo Aguenta Somos Humanos, Depois Disso Somos Bombeiros”: Análise dos Riscos Psicossociais Relacionados à Organização e às Condições do Trabalho Bombeiro Militar

14 de Abril, 2025 . Teses José Mário Barbosa de Brito

Esta pesquisa centrou-se na análise dos processos intrapsíquicos e intersubjetivos que dizem respeito ao trabalho de bombeiros militares. Teve como objetivo central analisar o sofrimento psíquico de bombeiros militares a partir do mapeamento dos riscos psicossociais relacionados à organização e às condições de trabalho em quartéis do estado do Pará e que são potenciais fatores de riscos psicossociais e deletérios à saúde destes trabalhadores. Tomamos como campo de pesquisa uma realidade prática e empírica, da qual buscou-se fazer desvelar os processos subjetivos engendrados no trabalho de bombeiros militares. Participaram da pesquisa 593 (quinhentos e noventa e três) bombeiros militares, dos postos de praças (soldados, cabos, sargentos e subtenentes), de um total de 2.667 (dois mil, seiscentos e sessenta e sete trabalhadores); do sexo masculino; lotados em quartéis da Capital, região metropolitana e de alguns municípios do interior do estado do Pará; no pleno exercício da atividade-fim, pelo menos, um ano no efetivo serviço ativo na corporação. O tempo de serviço dos trabalhadores pesquisados está entre 05 e 28 anos de serviço no CBMPA; com idades que variam entre 26 e 55 anos. O percurso metodológico para o desenvolvimento desta tese foi o quanti-qualitativo de tipo exploratório e descritivo. Tem como referencial teórico os pressupostos da Psicodinâmica do Trabalho que estão intimamente ligados aos da Clínica do Trabalho em que a palavra do trabalhador, individual ou coletivamente, é fundamentalmente central, para fazer desvelar as mediações ocorridas entre os sujeitos, o trabalho prescrito e o real do trabalho. Como instrumentos de pesquisa, partiu-se da aplicação do Protocolo de Avaliação dos Riscos Psicossociais no Trabalho (PROART), cujo objetivo e finalidade como instrumento de pesquisa estão diretamente coadunados com os objetivos definidos na pesquisa. Para tanto, o instrumento é dividido em quatro escalas: Organização Prescrita do Trabalho (EOT), Estilos de Gestão (EEG), Sofrimento Patogênico no Trabalho (ESPT) e Avaliação dos Danos Relacionados ao Trabalho (EADRT), das quais, os itens compreendidos na primeira dimensão nao apresentaram significância representativa para este público em especial, questão que não inviabiliza a validade e relevância do instrumento na pesquisa, sobretudo por se tratar de uma Escala que é preditora das demais. Nas outras três escalas, apenas 15 itens, dos 92 que formam o protocolo, se mostram sensíveis. Os itens com maiores índices de significância foram agrupados e organizados em seis categorias (que contemplam os 15 itens), a fim de melhor explorá-los, quando analisados em conjunto. Não se trata de alterações no protocolo, trata-se, apenas, de uma escolha metodológica para apresentação e discussão dos resultados. Utilizou-se o Diário de Campo, para registro das falas e das manifestações, consideradas pertinentes, que ocorreram nos encontros com os coletivos de trabalhadores e encontros, durante a pesquisa de campo. As questões subjetivas que compõem o PROART, juntamente com os registros do Diário de Campo, foram analisados qualitativamente a partir da análise de conteúdo. Os resultados mostram tratar-se de uma instituição onde a hierarquia entre as relações é valorizada, com forte predomínio de exigências disciplinares, no que refere às interações humanas no âmbito da organização. Os laços afetivos são fracos entre os trabalhadores, consequência de práticas organizacionais que estimulam a competitividade, o individualismo e concorrência entre as pessoas; existe rigoroso planejamento das ações, com rigor de normas, protocolos e prescrições, com pouca margem para a criatividade e adaptações frente à realidade do trabalho, onde a inovação é pouco valorizada; as chefias seguem o modo de gerenciamento verticalizado, com o poder de decisão centrado no oficial superior e nos postos de comando, tratando o trabalho dos subordinados com indiferença, desqualificação, pouca margem para o dialogar e com ausência de práticas de reconhecimento; presença de queixas de amargura e sensação de vazio, assim como das instalações inadequadas no ambiente, da carga horária excessiva e acúmulo de funções, da falta de sentido e de significância no trabalho que realizam. Do mesmo modo, há queixas de cansaço, das longas distâncias percorridas entre o local de trabalho e suas residências, sensação de improdutividade, da falta de material de trabalho adequada e suficiente, como a falta de EPI e de algumas ferramentas, como por exemplo, o desgaste físico e emocional, atribuídos ao teor da atividade, à diminuição do efetivo de trabalhadores , aumento da carga de trabalho e das demandas. Aponta para a presença de sintomas físicos, como dores no corpo, braços, pernas e costas. Em suma, uma instituição na qual a organização e as condições de trabalho estão diretamente relacionadas à gênese do sofrimento, dos riscos psicossociais e outros processos deletérios à saúde, apesar das estratégias defensivas e de enfrentamentos, criadas e utilizadas pelos trabalhadores, coletiva ou individualmente.

Autor(a)

José Mário Barbosa de Brito

Orientador(a)

Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

Curso

Psicologia

Instituição

UFPA

Ano

2016