Esta pesquisa centrou-se na análise dos processos intrapsíquicos e intersubjetivos que dizem respeito ao trabalho de bombeiros militares. Teve como objetivo central analisar o sofrimento psíquico de bombeiros militares a partir do mapeamento dos riscos psicossociais relacionados à organização e às condições de trabalho em quartéis do estado do Pará e que são potenciais fatores de riscos psicossociais e deletérios à saúde destes trabalhadores. Tomamos como campo de pesquisa uma realidade prática e empírica, da qual buscou-se fazer desvelar os processos subjetivos engendrados no trabalho de bombeiros militares. Participaram da pesquisa 593 (quinhentos e noventa e três) bombeiros militares, dos postos de praças (soldados, cabos, sargentos e subtenentes), de um total de 2.667 (dois mil, seiscentos e sessenta e sete trabalhadores); do sexo masculino; lotados em quartéis da Capital, região metropolitana e de alguns municípios do interior do estado do Pará; no pleno exercício da atividade-fim, pelo menos, um ano no efetivo serviço ativo na corporação. O tempo de serviço dos trabalhadores pesquisados está entre 05 e 28 anos de serviço no CBMPA; com idades que variam entre 26 e 55 anos. O percurso metodológico para o desenvolvimento desta tese foi o quanti-qualitativo de tipo exploratório e descritivo. Tem como referencial teórico os pressupostos da Psicodinâmica do Trabalho que estão intimamente ligados aos da Clínica do Trabalho em que a palavra do trabalhador, individual ou coletivamente, é fundamentalmente central, para fazer desvelar as mediações ocorridas entre os sujeitos, o trabalho prescrito e o real do trabalho. Como instrumentos de pesquisa, partiu-se da aplicação do Protocolo de Avaliação dos Riscos Psicossociais no Trabalho (PROART), cujo objetivo e finalidade como instrumento de pesquisa estão diretamente coadunados com os objetivos definidos na pesquisa. Para tanto, o instrumento é dividido em quatro escalas: Organização Prescrita do Trabalho (EOT), Estilos de Gestão (EEG), Sofrimento Patogênico no Trabalho (ESPT) e Avaliação dos Danos Relacionados ao Trabalho (EADRT), das quais, os itens compreendidos na primeira dimensão nao apresentaram significância representativa para este público em especial, questão que não inviabiliza a validade e relevância do instrumento na pesquisa, sobretudo por se tratar de uma Escala que é preditora das demais. Nas outras três escalas, apenas 15 itens, dos 92 que formam o protocolo, se mostram sensíveis. Os itens com maiores índices de significância foram agrupados e organizados em seis categorias (que contemplam os 15 itens), a fim de melhor explorá-los, quando analisados em conjunto. Não se trata de alterações no protocolo, trata-se, apenas, de uma escolha metodológica para apresentação e discussão dos resultados. Utilizou-se o Diário de Campo, para registro das falas e das manifestações, consideradas pertinentes, que ocorreram nos encontros com os coletivos de trabalhadores e encontros, durante a pesquisa de campo. As questões subjetivas que compõem o PROART, juntamente com os registros do Diário de Campo, foram analisados qualitativamente a partir da análise de conteúdo. Os resultados mostram tratar-se de uma instituição onde a hierarquia entre as relações é valorizada, com forte predomínio de exigências disciplinares, no que refere às interações humanas no âmbito da organização. Os laços afetivos são fracos entre os trabalhadores, consequência de práticas organizacionais que estimulam a competitividade, o individualismo e concorrência entre as pessoas; existe rigoroso planejamento das ações, com rigor de normas, protocolos e prescrições, com pouca margem para a criatividade e adaptações frente à realidade do trabalho, onde a inovação é pouco valorizada; as chefias seguem o modo de gerenciamento verticalizado, com o poder de decisão centrado no oficial superior e nos postos de comando, tratando o trabalho dos subordinados com indiferença, desqualificação, pouca margem para o dialogar e com ausência de práticas de reconhecimento; presença de queixas de amargura e sensação de vazio, assim como das instalações inadequadas no ambiente, da carga horária excessiva e acúmulo de funções, da falta de sentido e de significância no trabalho que realizam. Do mesmo modo, há queixas de cansaço, das longas distâncias percorridas entre o local de trabalho e suas residências, sensação de improdutividade, da falta de material de trabalho adequada e suficiente, como a falta de EPI e de algumas ferramentas, como por exemplo, o desgaste físico e emocional, atribuídos ao teor da atividade, à diminuição do efetivo de trabalhadores , aumento da carga de trabalho e das demandas. Aponta para a presença de sintomas físicos, como dores no corpo, braços, pernas e costas. Em suma, uma instituição na qual a organização e as condições de trabalho estão diretamente relacionadas à gênese do sofrimento, dos riscos psicossociais e outros processos deletérios à saúde, apesar das estratégias defensivas e de enfrentamentos, criadas e utilizadas pelos trabalhadores, coletiva ou individualmente.
“Até Onde o Corpo Aguenta Somos Humanos, Depois Disso Somos Bombeiros”: Análise dos Riscos Psicossociais Relacionados à Organização e às Condições do Trabalho Bombeiro Militar
José Mário Barbosa de Brito
Orientador(a)
Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira
Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2016