Esta dissertação buscou investigar a ressonância do diagnóstico de autismo na relação mãecriança, destacando-se a possibilidade de que esta nomeação não se cole como uma marca identificatória para o sujeito, configurando impasses ao olhar direcionado a esta, bem como o giro discursivo que pode ocasionar; tendo como objetivos específicos: situar o conceito de autismo desde o discurso médico – em seu entendimento dentro um espectro – em contrapartida ao posicionamento teórico e ético psicanalítico; discorrer acerca do discurso materno sobre a criança, considerando a primordialidade deste laço para a constituição de sujeito; e apontar as possíveis ressonâncias no enlace destes discursos na criança, a partir dos atendimentos realizados no Centro de Atenção à Saúde da Mulher e da Criança (CASMUC), no projeto O lugar da mulher na função materna: torções entre o feminino e o materno no cuidado à criança. Metodologicamente, caracteriza-se como uma pesquisa teórico-clínica, em que os conceitos investigados têm origem na teoria psicanalítica, desenvolvidos por Sigmund Freud (1895-1939) e continuados em seus avanços com Jacques Lacan (1953-1980), assim como autores contemporâneos. Aliados à proposta da escuta clínica realizada na universidade, são entrelaçados fragmentos de quatro casos atendidos no CASMUC através do projeto, em busca de proporcionar às mulheres a oportunidade de transformação por meio de sua própria fala, não prometendo suprimir o insuportável, mas bordejar algum suporte singular, diante do não-saber e do sintoma – como tantas falas, que giraram em torno do diagnóstico das crianças -, algo pode ser contornado de outras maneiras, distintas das repetitivas e promotoras de sofrimento psíquico. Compreendemos que é na relação individualizada, na escuta e na prática de cada mulher em sua relação com o filho(a), no exercício diário e intermitente dos cuidados atravessados por um ou mais diagnósticos, que foi possível trabalhar como um espaço de promoção da saúde psíquica, criando também uma rede de apoio. Sem oferecer uma visão romantizada da maternidade, nem prometer uma escuta que exclua o desconforto inerente à relação entre o sujeito e o Outro.
Na Sala de Espera: Ressonâncias do Diagnóstico de Autismo na Relação Mãe-Criança e a Importância da Escuta Psicanalítica no Ambiente Ambulatorial
Jéssica Pingarilho Batista
Orientador(a)
Roseane Freitas Nicolau
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2023