Esta pesquisa surgiu a partir de questionamentos advindos da prática clínica com crianças diagnosticadas como autistas e apresenta como objetivo, investigar condições e ferramentas que a psicanálise dispõe para o tratamento analítico com essas crianças, assim como, buscamos evidenciar os impasses que esses sujeitos apresentam frente a sua entrada na linguagem. Para sustentar esta discussão, construímos este trabalho a partir da metodologia de relato de caso clínico, no qual subsidiamos as articulações teóricas a partir do referencial freudo-lacaniano. Nessa perspectiva, dividimos o trabalho em três momentos. No primeiro, apresentamos e discutimos o crescimento progressivo de diagnósticos de autismo que se apresentaram no decorrer dos anos. Com isso, questionamos a que se deve esse aumento, se consiste no fato de que os critérios de avaliação se tornaram mais eficazes ou precocemente realizados. Em detrimento disso, apontamos as modificações que o espectro do autismo sofreu conforme o tempo nos manuais psiquiátricos e quais reverberações se apresentaram em nossa sociedade. Em um segundo momento, priorizamos a comentar sobre a constituição do sujeito, sua relação com o Outro, desde as experiências de satisfação até a unarização do traço. Nessa via, expomos o impasse encontrado nas crianças autistas, que consistiria na não unarização do traço, tendo em vista que nesses sujeitos, não haveria a cessão do objeto voz e olhar. No entanto, isto não os impede de construir uma marca simbólica e é por meio desta que teremos como traçar propostas de intervenções clínicas. No terceiro momento, apresentamos casos clínicos encontrados na literatura, assim como, um relato clínico de uma criança atendida pelo projeto de pesquisa-intervenção, no qual essa pesquisa está inserida. Frente a esses fragmentos, esboçamos a importância de apostarmos nas manifestações apresentadas por esses sujeitos, tais como, estereotipias, ecolalias, fixações a objetos, interesses específicos, dentre outros. Abordamos que essas manifestações podem subsidiar uma aproximação entre a criança e o analista, especialmente porque a partir delas, temos como construir, em consonância com a criança, uma vivência menos angustiante e ameaçadora no universo simbólico. Por fim, pensamos que este trabalho contribui para a psicanálise e para clínica do autismo, na medida em que atualmente presenciamos uma forte tendência à prescrição de tratamentos pela via comportamental e medicamentosa, que acaba por excluir qualquer manifestação apresentada por esses sujeitos, pois são percebidas como “disfuncionais”. No entanto, apostamos a partir da psicanálise que, apesar da “disfuncionalidade” observada, tais comportamentos podem servir de ponte para um novo enlaçamento.
De Uma Suspeita Diagnóstica à Aposta no Sujeito a Aposta do Analista na Clínica do Autismo
Amanda Brasil de Araújo
Orientador(a)
Roseane Freitas Nicolau
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2021