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Positivas: O ideal de Feminilidade em Rosseau e a Infecção de Mulheres pelo HIV

24 de Abril, 2025 . Dissertações Milla Maria de Carvalho Dias Vieira

Durante anos da epidemia do HIV∕aids, as questões que envolviam mulheres infectadas em relacionamentos estáveis foram silenciadas, pois existia a concepção de que apenas pessoas que faziam parte dos chamados “grupos de risco” estariam vulneráveis à infecção pelo HIV, como prostitutas e mulheres promíscuas sexualmente. Nesse contexto, as estratégias de prevenção estavam direcionadas apenas para esses grupos, o que levou a um grande aumento de mulheres infectadas, que eram casadas, namoradas, mães dedicadas à família e consideradas de “bom comportamento”. Nesta dissertação, buscamos analisar uma das problemáticas envolvendo mulheres infectadas em relacionamentos estáveis: a negociação do preservativo. O sexo feminino ainda apresenta dificuldade em negociar o uso da camisinha na relação sexual, pois muitas vezes quem decide sobre isso é o homem. As mulheres apenas aceitam passivamente o desejo masculino. Isso ocorre porque existem ideais que normatizam a conduta de mulheres, mantendo-as submissas, dóceis e passivas ao desejo dos homens. Na tentativa de compreender as origens desses ideais que fazem parte da subjetividade de mulheres em nossa cultura, abordamos que, no século XVIII, emergiu um novo modelo de feminilidade, cujo principal responsável foi Jean Jacques Rousseau. Tal modelo constituiu-se em um ideal que ainda serve como um referencial identificatório para muitas mulheres. Nesse ideal de feminilidade, as mulheres estariam destinadas à maternidade e ao espaço doméstico, deveriam ser dóceis e passivas, em relação aos desejos e necessidades dos homens, além disso, deveriam suportar sofrimentos, injustiças e encontrar prazer nas obrigações que lhes eram destinadas. A partir dessa perspectiva de Rousseau, questionamos se a identificação de mulheres ao ideal de feminilidade proposto por ele dificultaria a negociação do uso do preservativo na relação sexual com o parceiro estável. Para abordarmos essa questão, analisamos, a partir do aporte teórico psicanalítico, o depoimento de três mulheres participantes do documentário “Positivas”, produzido em 2009: Cida, Heli e Rosário. Considerou-se como resultado que as mulheres identificadas a esse ideal não conseguiriam negociar o uso do preservativo na relação sexual, pois não se posicionariam enquanto sujeito na relação com o parceiro sexual estável, permanecendo em uma posição de objeto e, dessa forma, se manteriam “caladas” diante do desejo do marido ou do namorado. Além disso, também se concluiu que as mulheres identificadas a esse ideal estariam submetidas a um modelo de subjetividade masoquista, pois ficariam subjugadas a certas práticas sociais que exigiriam delas submissão ao homem e sacrifício, ao abdicarem de seus desejos, com o intuito de serem mães e esposas dedicadas.

Autor(a)

Milla Maria de Carvalho Dias Vieira

Orientadores(as)

Paulo Roberto Ceccarell

Ana Cleide Guedes Moreira.

Curso

Psicologia

Instituição

UFPA

Ano

2017