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Mulheres Negras Amazônidas Frente à Cidade Morena: O Lugar da Psicologia, os Territórios de Resistências

24 de Abril, 2025 . Dissertações Flávia Danielle da Silva Câmara

Paira no imaginário social a ideia de que a Amazônia é terra de fauna, flora e “índio”. Ela ficou esquecida pela historiografia tradicional, que considerava irrisória a presença africana negra na configuração racial da região. Contudo, há tempos pesquisadores locais vêm recolocando em suas pesquisas a importância da região no panorama nacional, ressaltando a contribuição dos africanos negros traficados para o Grão-Pará. Assim, contrariando o imaginário étnicorracial, o último censo do IBGE (2010) apontou que 76,7% dos paraenses declararam-se negros (69,5% pardos, 7,2% pretos), dados que demonstram uma racialidade fortemente marcada pela mestiçagem, em que o mito da democracia racial branqueadora dificulta a (auto) identificação de negritudes amazônidas, que ficam escondidas sob uma morenidade e pelo mito do indígena. Dessa maneira o racismo enquanto arma ideológica, preconceito e discriminação segue como um modulador das relações sociais e o modus operandis do estão-nação. Considerando que as análises devem ser feitas de modo articulado, faz-se necessário adotar a interseccionalidade como instrumento para compreensões situadas em corpos concretos: com raça, gênero, classe, território, história. Em que, no elo, mulheres negras são as principais atingidas pela invisibilidade histórica, a mestiçagem e os piores índices de desenvolvimentos humano, portanto possibilitam maior compreensão sobre a realidade racial brasileira. Nesse sentindo, adotou-se o Pensamento Feminista Negro enquanto epistemologia viável para se compreender como mulheres negras constroem suas negritudes na Amazônia, em particular, na Região Metropolitana de Belém. Foi adotado o conceito de campo-tema do construcionismo social, a partir do qual foram realizadas rodas de conversas, anotações no diário de campo, conversas no cotidiano e utilização de referenciais teóricos do Feminismo Negros e das relações raciais em uma tentativa de problematizar os discursos sobre o tema e o que a Psicologia tem produzido com suas práticas. Percebeu-se que as relações raciais são complexas e que na intersecção gêneroraça, mulheres negras seguem marginalizadas social e academicamente, uma vez que existem poucos estudos com/sobre as sujeitas políticas na Psicologia. As quais, pelo posicionamento outsider within, trazem outras contribuições, a exemplo dos processos de racialização na Amazônia. Embora estes ocorram no mesmo jogo de poder das relações raciais brasileira, a constituição própria da história na Amazônia, as redes culturais e materiais dos antepassados negros legaram construções de negritudes diferentes, portanto, a negritude ontológica é inexistente e as mulheres negras existem em uma diversidade. Logo, cabe à Psicologia o compromisso ético de contingenciar, assim como outros pesquisadores vêm fazendo, as histórias da Amazônia e do Brasil em seus próprios discursos, rompendo o pacto de silêncio sobre o racismo, qualificando suas práticas, acolhendo quem lhe procura com sofrimentos psíquicos gerados pelo racismo e combatendo ombro a ombro com os movimentos/feminismos negros o racismo em suas interseções.

Autor(a)

Flávia Danielle da Silva Câmara

Orientador(a)

Maria Lúcia Chaves Lima

Maria Lúcia Chaves Lima

Curso

Psicologia

Instituição

UFPA

Ano

2017