Os parcos estudos sobre a temática do HIV/Aids e as comunidades quilombolas apontam para uma vulnerabilidade à infecção pelo vírus, principalmente no nível programático, ou seja, de politicas e serviços públicos. O objetivo deste estudo foi identificar as condições de acesso e utilização do serviço público de saúde de HIV/Aids das comunidades quilombolas no município de Santarém, estado do Pará, identificando ações de prevenção e de cuidado em relação a este agravo, sob a perspectiva dos quilombolas. O estudo é do tipo qualitativo, realizado com 04 comunidades intituladas Tiningú, Murumurutuba, Saracura e Pérola do Maicá, por meio de 20 entrevistas semiestruturadas (04 lideranças, 03 agentes de saúde, 13 moradores), conversas informais e observação participante. Os resultados demonstraram que os entrevistados tinham alguma informação a respeito do HIV/Aids e, em geral, a fonte de informação foi a instituição de ensino superior (IES), por meio da realização de projetos de pesquisa e extensão; a via de transmissão do vírus mais referida foi a sexual; a informação mais citada sobre as formas de prevenção foi o uso do preservativo masculino, embora a abstinência sexual e ter parceiro fixo tenham sido citados como métodos preventivos; as ações de prevenção do serviço público de saúde têm o foco nas mulheres gestantes, por meio do programa de pré-natal (prevenção secundária), com dificuldades de acesso aos insumos para ações mais amplas de educação para a saúde; finalmente, há disparidades na dificuldade de acesso aos serviços públicos de saúde, sendo a área de várzea a mais atingida. O estudo demonstrou a existência de um contexto de vulnerabilidade programática com baixo acesso ao Sistema Único de Saúde, o que foi considerado uma forma de racismo institucional. As relações estabelecidas entre o movimento quilombola local e a IES têm contribuído para dar visibilidade à discussão sobre HIV/Aids nessas comunidades. Há necessidade de intensificar a educação para a saúde, inserindo as ações de prevenção, em que a diversidade racial e cultural seja um dos elementos a ser considerado no planejamento, visando à garantia de construção de políticas públicas de saúde que respeitem esses territórios, ou seja, que os incluam nos direitos legítimos da cidadania.
“Só Sei por Cima Só”: As Comunidades Quilombolas do Município de Santarém-Pará e a Vulnerabilidade ao HIV/AIDS
Willivane Ferreira de Melo
Orientadores(as)
Pedro Paulo Freire Piani
Ana Cleide Guedes Moreira
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2014