A aids é uma enfermidade que teve grande impacto na humanidade em decorrência de suas consequências devastadoras. O vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) é o agente etiológico da síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA ou AIDS – acquired immunodeficiency syndrome). A infecção pelo HIV é, atualmente, delineada pela contagem do número de células CD4+, pela quantidade de partículas virais no sangue (carga viral) e pelos sintomas clínicos. A aids, assim como outros fenômenos, fere a norma de uma sociedade narcisista, que valoriza apenas aquilo que é “saudável”. As pessoas que pertencem a estes grupos são, com freqüência, percebidas como relapsas por não terem tomado os devidos cuidados, ou por se comportarem à margem da norma em vigor. Com isso, ferem os olhares de quem idealiza uma sociedade formada por corpos belos, saudáveis e incólumes à morte, ao fracasso ou ao “desajuste”. Uma doença incurável que surgiu ligada ao comportamento humano, carrega estigmas sociais e seus portadores sofrem duplamente: com os efeitos no corpo e em seu narcisismo. No caso da soropositividade, observa-se um narcisismo ferido. Diante disto, faz-se necessário explicar que, no psiquismo, o eu é equivalente ao corpo, ou seja: alterações no corpo são vivenciadas como alterações no eu. Para analisar a questão, utiliza-se aqui a pesquisa em psicanálise, que pode ser realizada de diferentes formas, e que tem entre seus tipos possíveis a pesquisa com o método psicanalítico, além da pesquisa teórica. A pesquisa realizada a partir de situações clínicas tem por objetivo analisar as questões corporais que afetam as pessoas com aids, iniciando pelas marcas físicas e culminando com as marcas psíquicas. A vulnerabilidade, o inquietante, o malestar e o narcisismo são conceitos debatidos a partir de sintomas no corpo da pessoa com aids, em uma pesquisa que teve duração de dois anos. Foram realizados atendimentos aos portadores do vírus HIV em situação de ambulatório ou hospitalização, cujas situações clínicas – apresentadas como flashes de atendimentos – serviram para fazer a ponte entre a teoria e a prática, confirmando a teoria freudiana de que as fontes de angústia do homem estão entre a caducidade do corpo, a certeza da morte e o contato com o mundo externo. O psicanalista em sua escuta no contexto hospitalar pode contribuir para o tratamento da pessoa com aids, realizando assim o desejo de Freud de que a psicanálise se estendesse a uma grande parte da população. Deste modo, a experiência obtida a partir desta pesquisa revela a grande necessidade de escutar e tratar a pessoa com aids para que o impacto da doença não impeça que a vida continue apesar dos dissabores trazidos pela doença.
Pesquisa em Psicanálise no Hospital: Corpos Marcados pelo HIV/AIDS, A
Amanda Cristina Serrão Pinheiro
Orientador(a)
Mauricio de Souza
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2013