A descoberta de uma malformação, tanto no nascimento quanto no crescimento da criança, gera uma série de sentimentos ambíguos, representando uma fonte de tensão e vulnerabilidade aos familiares. Portanto, o objetivo do presente estudo é compreender os sentidos atribuídos por acompanhantes de crianças hospitalizadas à Hidrocefalia e ao seu tratamento, buscando apreender a singularidade no modo como lidam com a problemática do adoecimento e tratamento, bem como seu papel no contexto hospitalar. Participaram deste estudo dez mães acompanhantes de crianças portadoras de Hidrocefalia, hospitalizadas na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA). Utilizou-se o método qualitativo, com ênfase à Análise de Conteúdo. Os instrumentos de pesquisa foram: a) Ficha de Identificação das crianças e acompanhantes e; b) Roteiro de Entrevista. A coleta de dados foi feita através de entrevistas semi-estruturadas gravadas em microfitas K7. Da análise realizada, surgiram três categorias temáticas: compreendendo os sentidos da enfermidade; sobre o tratamento e as expectativas de cura e; o luto pelo filho idealizado. Os resultados indicam que a maioria das mães e suas crianças são provenientes do interior do Estado, com difícil acesso aos serviços de saúde. Mediante o diagnóstico de Hidrocefalia, essas mães ficam desesperadas, angustiadas, apresentando dificuldades em compreender o porquê da malformação do filho. Referem ainda muitos temores associados ao tratamento cirúrgico, contudo mantêm a expectativa de cura, mesmo diante da gravidade da enfermidade. Ademais, observou-se que essas mães não estavam preparadas para viverem mudanças tão súbitas ao adentrarem no hospital, pois inicialmente sonham com o nascimento de um filho normalmente esperado, saudável, porém se deparam com a realidade da enfermidade, gerando sentimentos de choque, tristeza, confusão, ambigüidade, culpa, medo, raiva, incapacidade, lamentação, auto-piedade e frustração. Consideramos a necessidade da elaboração do luto pela criança outrora idealizada, visando a aceitação da mesma com suas reais potencialidades. Por fim, enfatizamos a importância da rede de apoio social, que abrange tanto a família como a equipe de saúde e a compreensão do significado de ser mãe acompanhante no contexto de uma Unidade Pediátrica, onde essas mulheres são parceiras no atendimento da criança, mas também precisam ser beneficiárias do serviço, pois estão igualmente afetadas pelas condições de doença e hospitalização.
Relatos de Mães Acompanhantes de Crianças Hospitalizadas com Hidrocefalia: Sentidos da Enfermidade, Tratamento e Vivência do Luto
Celina Monteiro Azevedo
Orientador(a)
Airle Miranda de Souza
Curso
Psicologia
Instituição
UFPA
Ano
2008