A tecnologia das redes sociais da web permite que pessoas se conectem virtualmente a outras, que se comuniquem e se mostrem por imagens várias, mensagens textuais e interações diversas com tal intensidade e constância, que o ambiente virtual aí formado se constituiu extensão da vida social e cultural, a plasmar e potencializar novos modos de existência, nos quais a figura mais evidente, ante a qual todo o conjunto se personaliza, é a do indivíduo: centro das redes sociais, a narrar e representar a própria existência e concepção de mundo em primeira pessoa. Simultaneamente ao realce individual, porém, se dá uma fusão geral, tanto pela interconexão que dá corpo a uma comunidade biotecnológica planetária, quanto pela replicação de práticas culturais similares, fundadas em valores também gerais, dos quais a conectividade e a visibilidade estão entre os principais. Tal complexidade de fundo tem sido pouco considerada por críticos que denunciam o aspecto aparentemente supérfluo dessas redes, voltado, segundo tais críticas, apenas à autoexibição a qualquer custo, inclusive, da privacidade. A etnografia aqui desenvolvida considera essa complexidade em sua reticularidade mais ampla, a também contemplar fenômenos exteriores ao âmbito imediato das redes sociais, fenômenos de ordem mercadológica, tecnológica, publicitária e política, que permitiram melhor compreensão do movimento geral. Recorreu ainda a informações diacrônicas sobre a retratística e a busca de visibilidade tanto na tradição ocidental quanto fora dela, a fim de, por critérios comparativos, proporcionar visão ainda mais abrangente do fenômeno nas redes sociais. Tal compreensão, contudo, não se teria dado a contento sem o reconhecimento de um fundo existencial subjacente às práticas de visibilidade, as quais, se é verdade que fomentam uma espetacularização da individualidade, mediante a construção de idealizações, de outro lado denotam trágica relação com o Tempo. Mas, se a etnografia, enquanto texto analítico e interpretativo dessas práticas, tem a pretensão de ser, ela própria, um retrato-relato desse “outro” que aí se mostra, tal pretensão se torna, ela mesma, objeto de autoquestionamento cuja consequência é o reconhecimento de sua própria natureza conflituosa, dividida que se encontra entre motivações de ordem epistemológica, pelas quais tende a tomar o “outro” como objeto de análise, e o constrangimento ético, expressão da consciência de que este “outro” jamais pode ser reduzido a tal condição.
Retratos do Outro.Com: Conectividade, Visibilidade e Existência na Rede Social
Edilson Pantoja da Silva
Orientador(a)
Ernani Pinheiro Chaves
Curso
Antropologia
Instituição
UFPA
Ano
2015