Em 1994, tem-se a primeira aparição de um grupo de rap na cidade de Belém do Pará. Surgido do bairro da Terra Firme, periferia de Belém, o grupo MBGC – Manos da Baixada do Grosso Calibre – revolucionou com um novo estilo musical para a retratar a realidade da periferia belenense. Desde a década de 80, momento de grande mudança de representação cultural, incluindo o âmbito historiográfico, o rap divulgou-se mundialmente como forma de espelhar a cultura popular e as insatisfações sofridas nos bairros afastados do centro. Surgido na década de 1970, nos Estados Unidos, após um panorama de grande crise, veio como forma inovadora para denunciar os problemas sociais vivenciados pelos jovens dos bairros marginalizados. Já no cenário brasileiro, o rap se inicia como forma de divertimento e posteriormente, revela-se politizado. Thaide e DJ Hum dão início ao rap nacional e logo outros nomes surgem, ganhando destaque, como Racionais Mc’s, que deram ao rap uma forma engajada. A partir desses eventos e da visibilidade nos jornais em Belém que retratavam o “rapping” e a cultura hip hop, o estilo musical ganhou força e influenciou novos sujeitos na região, atentando-se ao cenário amazônico e as dificuldades sofridas nos bairros da cidade, incluindo os artistas paraenses como Pelé do Manifesto e o Th091, com grande visibilidade em “poemas abolicionistas”. Desse modo, o objetivo geral desse trabalho é perceber as possibilidades do estilo musical rap como suscetível para análises e compreensão histórica, no que alberga os sujeitos da periferia – Pelé do Manifesto, Th091 e outros que deram início ao movimento como Mc Negro Edi, Bruno BO, Marcelo Muslim, Dj Morcegão – com suas rimas carregadas de aspectos da cultura diaspórica. O rap é um estilo caracterizado como “canto falado”, que busca contrapor as injustiças sociais, econômicas, culturais e históricas, e assume o papel de retratar realidades enfrentadas, estritamente, do povo negro, portanto, pode ser caracterizado como um efeito da colonização. Diante disso, é perceptível o estímulo aos pensamentos contrários a uma hegemonia formada, para confrontar as tensões culturais e o racismo.
Periferia e Negritude: Ritmo e Poesia (Rap) Como Produção Estratégica do Mundo Periférico em Belém-PA (1996-2023)
Emily Maria Pantoja Maia
Orientador(a)
Antônio Maurício Dias da Costa
Curso
História
Instituição
UFPA
Ano
2024