Os processos crimes de ferimentos e defloramentos são nossas fontes principais para compreendermos como homens e mulheres manejavam códigos e representações conjugais e amorosas em suas práticas cotidianas entre os anos de 1890 a 1945 na cidade de Vigia/PA. Buscamos compreender como se atualizavam os discursos dessas práticas relacionadas aos afetos nos termos das negociações e violências. Falamos das apropriações e usos de representações e códigos de lavradores, lavradoras, domésticas, pescadores, juristas, delegados, “artistas” e articulistas de jornais que viveram no município. Neste sentido, defendemos a tese de que, para além das dicotomias, compreendemos as narrativas em torno dos relacionamentos situando imagens das práticas masculinas e femininas socialmente consideradas legítimas e ilícitas ativadas no ambiente policial e judicial ao tratarem de suas experiências no cotidiano. Entre as casas, roças, igarapés, quintais e ruas da cidade, os protagonistas dessas narrativas apresentavam múltiplos discursos, tramas e manobras em torno de questões como masculinidade, feminilidade, amor, casamento, namoro, honra, intimidade e moradia. As diversas vozes e situações não viriam à tona sem que fizéssemos análises e comparações de dentro e de fora de cada processo criminal no sentido de atingirmos percursos entre a micro e a macro análise. Os jornais nos possibilitaram a ouvir os discursos oficiais e da Igreja a respeito do feminino e masculino; as mensagens de governo nos deram rastros de aspectos jurídicos e econômicos da cidade; os dados sobre a população retirados dos recenseamentos e dos registros civis e paroquiais de casamento permitiram uma visualização de tendências nos relacionamentos como idade e filiação. Vigia não teve uma modernização ou transformação urbana acentuada que influenciasse decisivamente as mudanças de comportamento, bem como os relacionamentos, os modos de sobrevivência e as moradias, mas nem por isso as mulheres e os homens dessa cidade deixaram de viver e expressar sentimentos experimentados pelos moradores das grandes cidades consideradas lugares de propagação de “bons e maus” costumes.
Relações Conjugais e Amorosas em Vigia, Pará: Códigos, Crime e Poder (1890-1945)
José Renato Carneiro do Nascimento
Orientador(a)
Cristina Donza Cancela
Curso
História
Instituição
UFPA
Ano
2016