Colocar em debate a crítica efetuada por Benedito Nunes é lançar olhar sobre uma vária, complexa e abrangente constelação de produções de uma vida dedicada à reflexão e recepção da literatura em suas múltiplas representações. Isso exige como primeiro passo a delimitação desse vasto conjunto, seguindo essa demanda, optou-se aqui por se atentar sobre a forma com a qual o crítico brasileiro aprecia o labor poético, e, mais especificamente, as suas considerações acerca de três poetas distintos entre si: João Cabral de Melo Neto, Max Martins e Mário Faustino. Por seus processos criativos se distinguirem bastante, atesta-se a capacidade exegética nunesiana em abarcar a pluralidade de apresentação da poesia. Isso não seria possível sem o débito com a filosofia, que, desde muito cedo chamou a sua atenção, tornando-se um filósofo pelo seu autodidatismo, e influenciado pelo mestre Francisco Paulo Mendes (1910-1999). Dentre as suas predileções filosóficas, a obra do alemão Martin Heidegger é, sem dúvida, uma das maiores. Obras como o tratado Ser e tempo (Sein und Zeit), de 1927, e A origem da obra de arte (Der Ursprung des Kunstwerkes), de 1977, foram fruto de extensos estudos por parte do intérprete, gerando publicações como Hermenêutica e poesia — o pensamento poético (1999) eA clave do poético (2009). De igual maneira, estudos que abrangem a vida e a construção teórica do autor em questão serviram abriram caminho para os diálogos aqui estabelecidos. É o caso da tese de doutoramento da professora Maria de Fátima do Nascimento, sob o título Benedito Nunes e a Moderna Crítica Literária Brasileira (1946-1969), defendida em 2012, que perpassa a formação do autor como estudioso de literatura e adepto da investigação filosófica. Essa fusão entre os horizontes filosófico e poético norteou as considerações presentes neste trabalho, permitindo a abordagem do modus operandi da hermenêutica de Benedito Nunes, bem como a sua compreensão das possibilidades da poesia e da filosofia enquanto expressões da lida do homem consigo mesmo e com o mundo que o circunda.
Três Poetas e um Crítico: A Abordagem Crítica de Benedito Nunes sobre a Poética de João Cabral de Melo Neto, Max Martins e Mário Faustino
Romário dos Anjos Aires
Orientador(a)
Sílvio Augusto de Oliveira Holanda
Curso
Letras
Instituição
UFPA
Ano
2018