Nos últimos anos, tem havido um grande interesse de pesquisadores em história da educação no Brasil em debruçar-se sobre a história do livro e das edições didáticas. Contudo, a Amazônia ainda carece de trabalhos nessa área. Das poucas pesquisas sobre história dos livros didáticos desenvolvidas na (e sobre a) região, não encontrei indícios de teses que tenham como objeto de investigação livros escolares de leitura. Neste estudo, trago contribuições no sentido de atender a essa necessidade ao apresentar o tema A ORDEM DE EDUCAR MENINOS NA AMAZÔNIA PARAENSE: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA OBRA „COMPENDIO DE CIVILIDADE CRISTÃ‟, DE DOM MACEDO COSTA (1880 a 1915). O objetivo geral do estudo é analisar os discursos constituídos sobre civilidade que ordenavam a educação de meninos no final do século XIX e início do século XX no Compendio de Civilidade Cristã, de Dom Macedo Costa. Para alcançar esse objetivo, analiso a obra a partir de duas perspectivas: como objeto físico e como texto. No domínio da investigação que considera o livro escolar de leitura como objeto físico, busco compreender a relação entre autor e editor na produção e edição da obra; situar historicamente a editora no contexto da produção de livros didáticos no Brasil; identificar os indicativos implícitos e/ou explícitos que Dom Macedo Costa inscreve na obra para produzir uma leitura de acordo com a sua intenção e impor um sentido para ela e identificar as ideologias que atravessam os elementos impressos nas formas tipográficas. No que diz respeito à análise da obra como texto, tenciono entender os diferentes significados e sentidos dos termos ‗civilidade‘ e civilização‘ e sua relação com o contexto sócio-histórico e cultural do Compendio de Civilidade Cristã; compreender as ideologias sobre prescrições e regulamentos disciplinares atravessados na obra; compreender a importância das ideias educacionais de civilidade dirigidas aos meninos paraenses nos discursos de Dom Macedo Costa e a relação dessas ideias com a política do ideário republicano paraense e identificar na obra o pensamento cristão sobre a educação de meninos que atravessou o Império e a República. A discussão do Compendio como objeto físico está fundamentada na História Cultural postulada por Roger Chartier, com foco na história da leitura em confronto com a história do livro, da edição ou dos objetos tipográficos. A análise da obra como texto está ancorada na Análise Dialógica do Discurso, de Mikhail Bakhtin. Os livros escolares de leitura constituem objetos de estudo e fontes documentais importantes para a compreensão da história da infância no contexto do Estado Brasileiro, em particular, da Amazônia paraense. Os dados mostraram que os discursos constituídos sobre civilidade que ordenavam a educação de meninos paraenses no final do século XIX e início do século XX no livro de leitura Compendio de Civilidade Cristã, de Dom Macedo Costa, são atravessados por uma ideologia que legitima as ideias defendidas pela elite brasileira, tencionando imprimir no menino uma ideia de civilidade que valoriza a produção cultural importada da Europa, a qual busca transformar esse garoto num sujeito monofônico, silenciado, e distanciá-lo dos usos e costumes da cultura paraense. Contudo, os mesmos discursos que tentam impor um padrão de comportamento nos moldes da cultura europeia trazem vozes de um menino impregnado de usos e costumes paraenses que o legitimam como sujeito situado histórica e socialmente dentro do contexto cultural da Amazônia paraense que, independentemente de classe social, se constitui como criança que pode ser educada dentro de um padrão de civilidade que quebra as barreiras da escala das condições e valoriza o ser humano dentro de um padrão de conduta que envolve a consideração pelo outro, revelado nas virtudes universais da moral cristã.
Ordem de Educar Meninos na Amazônia Paraense: Uma Análise Discursiva da Obra ‘Compendio de Civilidade Cristã’, de Dom Macedo Costa (1880 a 1915), A
Raimunda Dias Duarte
Orientador(a)
Laura Maria Silva Araujo Alves
Curso
Educação
Instituição
UFPA
Ano
2015